Maria de Jesus Barroso Soares nasceu em maio de 1925, na Fuzeta, Olhão. Formou-se em Arte Dramática no Conservatório Nacional, em 1943, e licenciou-se em História e Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa, onde conheceu aquele que seria o seu marido.
Foi atriz no Teatro Nacional - estreou-se em 1944, na companhia Amélia Rei Colaço/Robles Monteiro e na peça "Aparências" - mas também no cinema, onde participou em filmes como "Mudar de vida", de Paulo Rocha, ou "Le soulier de Satin", de Manoel de Oliveira.
Chegou também a ser professora no Colégio Moderno, fundado pelo sogro, João Lopes Soares, tendo, contudo, sido proibida de ensinar durante o Estado Novo.
De fundadora do PS a deputada, de Primeira-dama à Cruz Vermelha
Em 1973, participou, na Alemanha, na reunião fundadora do Partido Socialista. Na altura, votou contra a ideia de fundação do PS, o que muito aborreceu Mário Soares.
"Julgávamos que não era bem a altura de formar o PS, devíamos esperar um bocadinho antes de tomar a decisão. Estávamos errados e Mário Soares estava certo, a História provou-o", disse a própria numa recente entrevista ao jornal i a propósito do seu 90.º aniversário, a 2 de maio de 2015.
Depois do 25 de Abril de 1974, foi por várias vezes eleita deputada à Assembleia da República, pelos círculos de Santarém, Porto e Faro e em 1986, assumiu o papel de mulher do Presidente da República, quando Mário Soares foi eleito para um primeiro mandato.
Durante uma década no Palácio de Belém, dedicou-se à defesa de causas como o apoio aos países de língua portuguesa, a prevenção da violência, a luta contra o racismo e a exclusão social.
A defesa de causas e o apoio a quem mais precisa foi, de resto, algo que moveu a sua vida mesmo depois de Soares ter deixado a Presidência da República, em 1997. Assim, presidiu à Cruz Vermelha Portuguesa até 2003, foi fundadora e presidente da Organização Não Governamental (ONG) Pro Dignitate - Fundação de Direitos Humanos e da Fundação Aristides de Sousa Mendes.
Numa entrevista ao jornal i, Maria Barroso confessou que apesar de todas as "contrariedades, de todos os revezes e de todas as encruzilhadas, valeu a pena ter vivido". "Sinto que estou quase a partir, que se aproxima o momento", acrescentou então.
A relação com Mário Soares e a reconciliação com a Igreja
Sobre a sua relação com Mário Soares - depois de contar um episódio em que cedeu à vontade dele e não se inscreveu no curso de Direito - afirmou: "Tive sempre a ideia de não fazer nada que o enervasse e o contrariasse, por isso estamos casados há 66 anos. Temos uma relação excelente, que é fruto dessa compreensão".
Admitiu que não fazer o curso de Direito foi um dos sonhos que deixou para trás por causa do marido. "Fora isso, quis acompanhá-lo sempre, mesmo nos momentos mais difíceis", acrescentou.
Católica desde a infância, admitiu ter-se afastado da religião durante os tempos de faculdade, uma reaproximação que só voltou a acontecer quando o filho João Soares sofreu um acidente de aviação em Angola. "Todas as manhãs chegávamos ao hospital e eu perguntava por ele ao médico que chefiava a equipa. Um dia, ele respondeu-me que “estava um bocadinho melhor, mas só um bocadinho, porque continuava muito mal. Peça a Deus. Pedi a Deus. Mas, antes disso, pedira a uma funcionária do colégio, muito minha amiga, para encomendar uma missa pelo João. Senti-me bem nesse novo encontro com a religião", relatou.
Questionada pelo jornalista sobre como gostaria de ser recordada respondeu: “Uma cidadã modesta, mas amante da liberdade, da solidariedade e do amor. A minha palavra preferida, sem qualquer dúvida (…) o amor!".
Maria Barroso, que morreu em Julho do ano passado aos 90 anos, destacou-se como atriz, declamadora e ativista política e ao longo de 66 anos acompanhou a vida do histórico líder socialista e antigo Presidente da República, Mário Soares, agora falecido.
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