Em declarações à agência Lusa, o meteorologista Nuno Moreira explicou que as células convectivas se encontram associadas a uma depressão no oceano Atlântico, em deslocamento para nordeste e a entrar, durante a tarde de hoje, em Portugal continental.
“O que aconteceu hoje de manhã em Beja e em Palmela foi a ocorrência de células convectivas desorganizadas, que designámos de supercélulas e que contêm no seu interior mesociclones, estrutura que pode dar origem a tornados, por exemplo”, salientou.
Uma tempestade intensa atingiu hoje de manhã várias zonas da cidade de Beja e provocou a queda de mais de 100 árvores e danos em veículos e infraestruturas, disse fonte dos bombeiros.
Tratou-se de "um fenómeno rápido de vento forte e chuva intensa, talvez um minitornado", que começou por volta das 10:50 e passou "por cerca de 20 artérias da zona sul/sudeste da cidade", provocando sobretudo quedas de árvores, algumas em cima de veículos, explicou o comandante dos Bombeiros Voluntários de Beja, Pedro Barahona.
Também um fenómeno de ventos fortes ocorrido hoje na Estrada do Lau, concelho de Palmela, distrito de Setúbal, provocou a queda de árvores de grande porte e de postes da eletricidade e fez danos em duas habitações.
Fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Setúbal disse, cerca das 14:00, que não houve feridos nem desalojados.
Questionado sobre se os fenómenos ocorridos hoje de manhã nos distritos de Beja e de Setúbal estavam relacionados com a depressão Paulette, que deverá provocar um agravamento gradual do tempo nas ilhas das Flores e Corvo, nos Açores, Nuno Moreira referiu que esta não afeta o continente, estando a noroeste do grupo Ocidental açoriano.
“A depressão que está ao largo da costa portuguesa é uma depressão que foi acompanhada durante toda esta semana, quer pelo IPMA, como também do National Hurricane Centre [NHC, centro que monitoriza os furacões no Atlântico]”, sublinhou, adiantando que não foi classificada como sendo tempestade tropical, por não terem sido identificadas características trópicas suficientes.
Na terça-feira, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera informou que o furacão Paulette deveria afetar o grupo Ocidental dos Açores este fim de semana já como tempestade pós-tropical, depois de ter atingido na segunda-feira a costa das Bermudas.
Segundo informação disponibilizada na quinta-feira na página do IPMA, às 14:00 nos Açores a depressão “encontrava-se a aproximadamente 870 quilómetros a nor-noroeste da ilha das Flores, com uma pressão mínima no seu centro de aproximadamente 980 milibares”, prevendo-se uma deslocação para sul.
Nuno Moreira afirmou ainda que a tempestade que assola hoje Portugal continental não foi nomeada como tropical: “Além de o NHC não ter nomeado esta depressão como ciclone subtropical, também o IPMA, em articulação com os seus congéneres de Espanha, França e Bélgica, não nomeou esta depressão como tropical”.
De acordo com o meteorologista, era necessário verificar-se ventos com rajadas superiores a 110 quilómetros por hora (Km/h) nas terras altas e superiores a 90 Km/h no resto do território nacional e ser emitido aviso laranja de vento para ser considerada tempestade tropical.
Em comunicado, o IPMA lembrou que vento vai continuar moderado a forte com rajadas até 75 km/h, podendo chegar a 90 km/h nas terras altas. Prevê-se a diminuição gradual das condições de instabilidade ao longo da tarde e a diminuição significativa da intensidade do vento no início da noite.
Segundo o IPMA, podem continuar a ocorrer fenómenos extremos de vento nas regiões Centro e Sul durante a tarde.
No sábado, e até ao início da próxima semana, o estado do tempo no continente vai ser condicionado por uma nova depressão que vai estar centrada a noroeste do território português, prevendo-se a ocorrência de aguaceiros e a possibilidade de trovoada, mais provável no Norte e Centro, com vento fraco a moderado do quadrante oeste, soprando pontualmente forte nas terras altas.
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