Cerca de 80% dos ninhos de tartarugas comuns depositam os seus ovos na ilha da Boa Vista e a Bios-CV é uma das três ONG que trabalham na conservação dessas espécies protegidas do país.
Em declarações à agência Lusa, a secretária-geral da Bios.CV, Carolina Oujo, disse que, tendo em conta a pandemia da covid-19, a organização vai reduzir o número de atividades no acampamento, que será montado na praia de João da Rosa, numa extensão de cinco quilómetros dentro da reserva natural da ilha, para ter o mínimo de pessoas possíveis para executar as tarefas.
“Vamos reduzir, vamos modificar o orçamento, para contratar pessoal local da Boa Vista, esperando cumprir os nossos objetivos de conservação e preservação de tartarugas, e será uma forma de ajudar a comunidade a ter um rendimento e apoiar aquelas pessoas que ficaram sem trabalho por causa da queda do turismo”, disse a responsável da associação, que este ano não vai poder contar com voluntários internacionais.
Questionada sobre as perspetivas quando o número de ninhos, Carolina Oujo sublinhou que o ciclo de vida das tartarugas é complexo e modifica a cada ano, pelo que a única solução é esperar para ver o que vai acontecer nesta nova temporada de desova, que arranca a 01 de junho.
A secretária da Bios.CV disse que a época vai arrancar também com menos circulação de pessoas e de viaturas, o que vai resultar numa “maior proteção” das tartarugas na também conhecida como “Ilhas das Dunas” e que diagnosticou o primeiro caso de covid-19 em Cabo Verde, a 19 de março.
Carolina Oujo garantiu à Lusa que a associação, fundada em 2012, já tem tudo pronto para arrancar a tempo com as atividades no acampamento, mas disse que tudo vai depender das indicações do Governo, através da Direção Nacional do Ambiente (DNA).
Quem também ainda está à espera da Direção Nacional do Ambiente de Cabo Verde é a Associação Ponta d’Pon, a única que desde 2007 possuiu licença para vigiar as praias na ilha de São Vicente, numa extensão de cerca de 30 quilómetros.
Segundo o presidente da associação, Albertino Gonçalves, o arranque das atividades no primeiro dia de junho permanece uma “incógnita” porque está a aguardar pelas indicações e por uma resposta da DNA para atribuir o financiamento para as atividades desde ano.
Mas o presidente garantiu que a associação vai arrancar “com ou sem financiamento da DNA”, mas para isso vai ter que se “adaptar” e recorrer a outros patrocinadores locais.
Albertino Gonçalves explicou à Lusa que algumas atividades serão adaptadas, nomeadamente as palestras presenciais e teatro nas escolas e a sensibilização nas zonas piscatórias.
“Vamos estudar uma nova forma de fazer isso, face à pandemia que estamos a viver neste momento”, apontou, esperando “alguma dificuldade” em ter voluntários locais e internacionais.
O presidente disse que a associação tem uma bolsa entre a 15 a 20 voluntários, e mais cinco a seis chegam de Portugal todos os anos para participar na “Escolinha de Verão” de Ponta d’Pon e aproveitam para participar nos trabalhos de conservação das tartarugas marinhas na ilha.
“E este ano não vamos tê-los aqui, como também não vamos ter a “Escolinha de Verão”, outro projeto desenvolvido durante o mês de agosto”, disse o presidente da associação, que realiza as suas atividades em apenas duas praias de São Vicente: Norte de Baía e Praia Grande.
Por isso, voltou a lamentar o facto de várias outras praias ficarem descobertas nessa época, e precisamente nas onde se regista o maior número de caça às tartarugas marinhas, referiu.
Caso o financiamento da DNA for disponibilizado, Albertino Gonçalves disse que dá para vigiar as praias até agosto ou meados de setembro, que é quando ainda acontece a desova e começa a eclosão, que se prolonga até dezembro.
“É um trabalho que fica incompleto. É que protegemos para fazerem a desova e depois não temos meios suficientes para proteger as tartaruguinhas quando vão para o mar”, lamentou, indicando que a associação tenta prolongar o seu trabalho por mais algum tempo com recursos próprios.
Na ilha do Fogo, o presidente da Associação Projecto Vitó, Herculano Dinis, disse que a associação está a preparar a nova época de desova “com algumas restrições”, mas a atividade mais importante já arrancou, que é o recrutamento de guardas e voluntários.
O líder associativo disse que vai haver menos disponibilidade de pessoas, devido à pandemia da covid-19, e alertou que, por isso, a pressão sobre as tartarugas marinhas de Cabo Verde poderá aumentar este ano, com mais tentativas de capturas, como forma de obter algum rendimento.
Por isso, disse que os voluntários disponíveis vão ficar mais vigilantes e todos os outros parceiros já estão alertados para tentar minimizar a captura de tartarugas no Fogo e no Ilhéu de Cima, perto da ilha Brava.
”A ideia é arrancar a campanha no dia 01 de junho, de monitorização e vigilância”, previu Herculano Dinis, em declarações à Lusa, indicando que, para evitar aglomeração de pessoas, o Projeto Vitó vai “repensar” a sua estratégia de sensibilização presencial das pessoas.
Em 2018, Cabo Verde, que contabiliza 182 quilómetros de praias vigiada em todo o território, registou 109 mil ninhos de tartaruga, um número recorde e quase três vezes maior do que o ano anterior.
A população de tartarugas marinhas ‘Caretta caretta’ no país é a terceira maior do mundo, sendo apenas ultrapassada pelas populações na Florida (Estados Unidos) e em Omã (Golfo Pérsico).
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