Depois de fechado por causa da pandemia de covid-19, o mercado de Vila Pouca de Aguiar abriu, mas apenas para os agricultores locais.
Lá dentro os stands cumprem as distâncias de segurança e ninguém entra sem higienizar as mãos com álcool gel ou colocar máscaras, que são oferecidas pela câmara para quem não tem.
Maria Adosinda Gomes é agricultora na aldeia de Vila do Conde e afirmou à agência Lusa que sentiu dificuldades e receio quando começou a pandemia, até porque as feiras fecharam.
“Aqui já estou a conseguir vender. Este é a segundo mercado e está a correr bem. Esta iniciativa é uma grande ajuda para os produtores do concelho”, afirmou à agência Lusa.
Da sua banca emana o cheiro a terra proveniente do cebolo, dos tomateiros, pimenteiros ou dos repolhos, prontos para transplantar.
Gabriel Fernandes tem um horto com as mais variadas hortícolas, umas para transplantar e outras destinadas à exportação.
Aproveitou a iniciativa da autarquia para “escoar o excedente”, até porque costumava vender em feiras que têm estado fechadas devido à pandemia.
“É uma iniciativa de louvar e de aproveitar e que está a ajudar a economia do concelho. Ao ser feito aqui, o nosso produto tem outras características que lhe vai permitir resistir melhor às nossas condições climatéricas”, frisou.
A sua cliente Helena Maria comprou cebolo e pimentos para a pequena horta que tem junto a casa. “Estava a atrasar com receio de vir comprar, mas hoje aproveitei”, contou.
Ao lado, Isabel Castela vende feijão, pão, morangueiros, alho francês. “Já não se vende igual, as pessoas têm medo, receio. Tem sido uma altura muito triste. Vir aqui ajuda muito, psicológica e financeiramente”, afirmou à Lusa.
José de Sousa Alves aproveitou para ir comprar tomate e pimento para, quando a chuva amainar, ir plantar na sua horta porque tudo o que se colhe “é de melhor qualidade”.
“Todas as iniciativas para ajudar as pessoas da terra são boas”, sublinhou este cliente.
O agricultor António Pereira disse que o negócio está a correr bem, mas recusa-se a falar da pandemia. “Não quero falar em nada que seja negativo”, salientou.
O octogenário Mário Pinto saiu de casa pela primeira vez em mês e meio para vender o mel que produz. “Vim mostrar e já vendi alguns frascos”, afirmou.
Jorge Gonçalves tem estufas e viveiros na aldeia de Souto com as plantas e flores da época. Costumava vender para feirantes e esta é a primeira feira em que participa.
“Nós não sentimos muito a quebra nas vendas porque as pessoas estão a comprar muito este tipo de plantas para transplantar e fazer as suas próprias hortas. Até aumentamos as vendas nesse tipo de produtos, notou-se isso”, afirmou.
O presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar disse que a reabertura do mercado é uma estratégia de “incentivo à produção local”, que se vai repetir todas as sextas-feiras, mesmo para além da pandemia.
“É fundamental nós dinamizarmos o setor agrícola para a sobrevivência do próprio território. Os nossos empresários são uns autênticos heróis, estão a passar dificuldades enormes, os canais de escoamento estão muito condicionados e é importante haver dinâmicas locais que permitam a venda do produto”, afirmou.
Tal como em Vila Pouca de Aguiar, outros municípios do distrito transmontano como Alijó, Chaves, Boticas, Valpaços ou Sabrosa estão a reabrir ou mesmo criar mercados que visam o escoamento dos produtos dos agricultores locais e, ao mesmo tempo, garantir frutas e legumes frescos para os consumidores.
Em Sabrosa, a autarquia decidiu promover todos os domingos, a partir do dia 10 de maio, um mercado de produtos da terra, destinado aos produtores do concelho, para a venda dos seus produtos frescos, hortícolas e frutícolas.
Cada produtor terá disponível um stand individual de venda e um 'kit' de proteção individual.
Atendendo às dificuldades que os pequenos agricultores de Boticas enfrentam para conseguir escoar a sua produção e de forma a minimizar o impacto negativo que o surto pandémico está a causar no setor agrícola, o mercado municipal está de portas abertas às terças, quintas e sextas-feiras.
“Face à atual situação em que nos encontramos, esta foi uma das formas encontradas para que os produtores da nossa terra consigam escoar, pelo menos, uma parte da sua produção e ter alguma rentabilidade do seu trabalho, evitando-se prejuízos mais avultados”, afirmou o presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga,
Como precaução contra a covid-19, o município determinou que a circulação de pessoas dentro do edifício deve ser feita de forma alternada, evitando-se assim aglomerados de pessoas no mesmo espaço.
Portugal termina no sábado, 02 de maio, o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e passa para o estado de calamidade a partir das 00:00 de 03 de maio.
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