“O Conselho de Fundadores foi marcado pelo presidente do Conselho da Fundação para o dia 5 de dezembro e não tenho nada a comentar sobre isso. Como sabe o Governo é fundador, mas a administração e o governo da administração cabe ao seu conselho de fundadores, dado que é uma fundação privada”, declarou à Lusa Castro Mendes.
À margem de uma sessão das Jornadas Europeias do Património, que decorreu na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Castro Mendes escusou-se a tecer qualquer outro comentário sobre a polémica gerada à volta da demissão do diretor do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, após a inauguração da exposição do fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe, alegadamente devido a “ingerência” na autonomia artística.
Este ano, de acordo com o despacho do Governo publicado no passado dia 18 de junho, em Diário da República, a Fundação de Serralves recebe um total de 4,270 milhões de euros, no âmbito das transferências para as fundações, previstas pelo Orçamento do Estado, provenientes do Fundo de Fomento Cultural e da Direção-Geral do Património Cultural.
Em janeiro de 2017, o Ministério da Cultura publicou igualmente uma portaria, autorizando o Fundo de Fomento Cultural a transferir para a Fundação de Serralves 500 mil euros por ano, de 2016 a 2018, destinados à aquisição de obras para a instituição.
O diretor do Museu de Serralves, João Ribas, demitiu-se a 20 de setembro, após a inauguração da mostra “Robert Mapplethorpe: Pictures”, que comissariou, por entender que não tinha condições para prosseguir o trabalho, depois de terem sido definidas zonas reservadas na exposição, e de o seu universo ter sido reduzido de 179 para 159 obras.
Ribas disse, num comunicado divulgado na quarta-feira, que se demitira por entender que "não é admissível que a liberdade e a autonomia do diretor sejam desrespeitadas", defendendo que o cargo “é incompatível com ingerências, pressões ou imposições que limitem a sua autonomia técnica e artística”.
O curador adiantou que, ao programar “Pictures”, de Mapplethorpe, “restrições e intervenções", por parte da administração da fundação, tiveram consequências na “conceptualização expositiva, nomeadamente na semana de montagem”, e obrigaram a “sucessivas reorganizações”, conduzindo a uma alteração dos trabalhos selecionados, “para que a exposição fosse um todo coerente e para que, assim, se promovesse de modo adequado o conhecimento e o diálogo social protagonizados por Robert Mapplethorpe”.
Essas restrições, segundo Ribas, levaram assim a "um ponto de rotura".
O conselho de administração da Fundação de Serralves, por seu lado, garantiu não ter mandado retirar qualquer obra da exposição, num encontro tido com a imprensa, na quarta-feira.
“Em Serralves não há, nem nunca houve censura, nem nunca sob a nossa responsabilidade haverá censura. Mas também não haverá complacência com a falta de verdade, nem fuga às responsabilidades”, disse a presidente de Serralves, Ana Pinho.
A comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto aprovou as audições do diretor demissionário do museu e da administração da fundação, que deverá realizar-se em outubro, após a visita dos deputados à exposição dedicada a Robert Mapplethorpe, marcada para o próximo dia 04.
Durante os primeiros dias, no fim-de-semana de 21 a 23 de setembro, a exposição dedicada a Robert Mapplethorpe recebeu perto de 6.000 visitantes, batendo recordes de público, segundo fonte da instituição.
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