Kofi Annan foi o primeiro africano a desempenhar opapel mais prestigiado na diplomacia mundial tendo sido secretário geral da ONU em dois mandatos, respetivamente entre 1997 e 2006. Depois de sair de funções, foi ainda enviado especial da ONU à Síria no âmbito da procura de uma solução para o conflito.
Recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2001 pelo seu trabalho humanitário na ONU, nomeadamente na criação do Fundo de Luta contra a SIDA, Tuberculose e Malária.
Na declaração em que comunica o seu desaparecimento, a Fundação Kofi Annan descreve-o como "um estadista global" que lutou toda a vida por um mundo mais justo e em paz.
"Onde quer que existisse sofrimento ou privações, ele chegou às pessoas com a sua profunda compaixão e empatia. Colocou os outros primeiro de forma altruísta, emanando genuína amabilidade, calor e brilhantismo em tudo o que fez",
"Nascido a uma sexta-feira"
Kofi Annan era natural do Gana, onde nasceu em 1938. Teve uma irmã gémea e os nomes de ambos seguiram a tradição local de se referirem ao dia da semana em que nasceram na língua Akan - no caso uma sexta-feira.
Oriundo de uma colónia britânica, Kofi Annan cresceu numa família abastada e com influência na sociedade, o pai foi inclusive governador. Annan tinha apenas 19 anos quando o país conquistou a sua independência.
Após ter frequentado a universidade nos Estados Unidos, começou a trabalhar na Organização Mundial de Saúde, na área de controlo financeiro, e seria aí que iniciaria uma carreira de mais de 40 anos ao serviço da diplomacia internacional.
Durante a sua carreira enfrentou algumas das crises humanitárias que mais colocaram a ONU à prova, como foi o caso, em 1994, dos massacres na guerra civil do Ruanda entre Tutsis e Hutus que resultaram na morte de cerca de 800 mil pessoas e, no ano seguinte, em 1995,da execução de oito mil muçulmanos por forças sérvias na área supostamente de segurança da ONU na Bósnia.
Em 1997, já depois destas duas crises profundas, Kofi Annan foi eleito secretário-geral da ONU, sucedendo a Boutros Boutros-Ghali. Herdou uma organização com problemas financeiros, na qual teve de reduzir custos e postos de trabalho, mas foi também ele que lançou os pilares dos Objetivos do Milénio, uma declaração com os olhos postos no futuro com ambição de resolver os principais problemas da humanidade.
Eleito para um segundo mandato e com um Prémio Nobel da Paz atribuído, Kofi Annan enfrentaria um período negro com a invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003, numa decisão contrária à posição assumida pela ONU. Em 2004, o diplomata ver-se-ia envolvido - pessoal e profissionalmente - nas irregularidades detetadas no programa "petróleo por alimentos" que desde 1996 permitia ao Iraque uma janela nas sanções internacionais de forma a fazer chegar ao país ajuda humanitária. Funcionários da ONU, diplomatas e o próprio filho de Kofi Annan foram apontados como envolvidos no escândalo de pagamentos ilegais no âmbito deste programa. O então secretário-geral foi ilibado após inquérito de ter usado a sua influência para favorecimentos, mas os auditores deixaram notas à forma como supervisionou o programa.
Concluído o segundo mandato como secretário-geral, Kofi Annan retirou-se de funções - mas por pouco tempo. Ficou conhecido o episódio em que, durante umas férias em Itália, um grupo de pessoas o abordou a pedir autógrafos - confundindo-o com o ator Morgan Freeman - mas o facto é que Kofi Annan sentia falta de estar em ação e é assim que decide lançar uma fundação com o seu nome para o desenvolvimento sustentável, segurança e paz.
Casado pela segunda vez com uma advogada sueca, Nane Marie Lagergren, Kofi Annan manteve-se sempre ativo. Há poucos meses, por altura do seu 80º aniversário, disse à BBC: "descobri que a reforma é um trabalho árduo".
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