A cerimónia, organizada pela Aliança das Civilizações, de que Sampaio foi o primeiro alto representante, e pela missão portuguesa na ONU, é “assumida por todos os países das Nações Unidas pela relevância das funções” que Jorge Sampaio exerceu na organização e pelos resultados do seu trabalho no âmbito das Nações Unidas”, disse à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em declarações por telefone desde Nova Iorque.
Intitulada “Solidariedade não é facultativa, é um dever” — uma frase que Jorge Sampaio escreveu no seu último artigo -, a cerimónia conta com intervenções do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, do atual alto representante da Aliança das Civilizações e do ministro português.
Conta ainda, entre outros, com intervenções do Presidente turco, Recep Tayiip Erdogan, e do ex-primeiro-ministro espanhol José Luis Zapatero, os dois líderes que, em 2005, e na sequência dos atentados do 11 de setembro, propuseram a criação da Aliança das Civilizações para promover o diálogo e cooperação internacionais, interculturais e inter-religiosos.
Na cerimónia, disse o ministro português, “estará em causa” o papel que Sampaio desempenhou na procura de “soluções de apoio aos estudantes do ensino superior que veem os seus estudos interrompidos por conflitos no seu país de origem por perseguições, violência, ou outras razões”.
Santos Silva recordou que Jorge Sampaio fundou em 2013 a Plataforma Global para Estudantes Sírios, para permitir a esses estudantes continuarem em Portugal os seus estudos interrompidos pela guerra civil no seu país.
Juntamente com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Sampaio trabalhou depois “no sentido de evoluir, a partir de um exemplo bem-sucedido português, para um mecanismo de resposta rápida em situações de emergência no Ensino Superior”.
“A melhor homenagem que nós podemos prestar a estadistas é continuar a trabalhar na direção que eles abriram”, sublinhou o ministro, adiantando que o objetivo de Portugal é que, de entre os mecanismos de cooperação e apoio humanitário disponíveis no sistema das Nações Unidas, haja um especificamente dirigido ao caso dos estudantes do ensino superior afetados por conflitos.
A ideia é que esse mecanismo internacional procure apoiar, com bolsas de estudo e acolhimento em universidades de diversos países, aqueles estudantes que a conflitualidade, perseguições e a violência impedem de continuar a estudar nos seus países, explicou.
Segundo Santos Silva, um mecanismo como esse permite, não só que os estudantes prossigam os seus estudos, mas também que “os países devastados pela guerra ou pelo conflito possam preparar a sua recuperação pós-conflito, na medida em que a preparação das suas elites técnicas, profissionais ou sociais” prossegue no estrangeiro.
O chefe da diplomacia portuguesa acrescentou que, também na segunda-feira, “por um acaso feliz”, a Noruega e o Níger organizam uma discussão no Conselho de Segurança da ONU dedicada à educação em situações de emergência, na qual Santos Silva participará em representação do Governo de Portugal.
“Amanhã nós teremos dois grandes objetivos: homenagear o Dr. Jorge Sampaio e agradecer-lhe tudo o que ele fez pelo multilateralismo e a cooperação internacional, mas também prestar esta outra homenagem que é continuar a trabalhar em prol de uma resposta internacional a situações de emergência no ensino superior”, concluiu.
Jorge Sampaio, que morreu em 10 de setembro, com 81 anos, foi Presidente da República durante dois mandatos, entre 1996 e 2006.
Após o fim do segundo mandato, e ainda em 2006, Jorge Sampaio foi o enviado especial da ONU na Luta contra a Tuberculose e, um ano depois, foi convidado para exercer o cargo de Alto Representante da ONU para o Diálogo das Civilizações, até 2013.
Nesse ano criou a Plataforma Global para Estudantes Sírios.
Um dos seus últimos atos públicos foi, em agosto, quando os talibãs regressaram ao poder no Afeganistão, anunciar num artigo publicado no jornal Público, um reforço da plataforma de apoio aos estudantes sírios para dar bolsas de estudo a jovens afegãs.
Nesse artigo, publicado na véspera de ser internado, Sampaio escreveu que “nunca seria demais recordar que a solidariedade não é facultativa, mas um dever que resulta do artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos — ‘Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade'”.
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