O Azerbaijão abriu hoje a única estrada que liga aquele enclave à Arménia, seis dias após a capitulação dos separatistas e um acordo de cessar-fogo que colocou Nagorno-Karabakh sob o controlo de Baku.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) pediu hoje respeito pelas leis humanitárias e proteção para os milhares de pessoas, na maioria arménios, que estão a abandonar o enclave de Nagorno-Karabakh após a ofensiva militar azeri que pôs fim a 30 anos de autogoverno.
“As operações de passagem segura só devem organizar-se se as pessoas decidirem ir-se embora, não devem separar membros da mesma família e deve ser prestada especial atenção às pessoas doentes, feridas, aos mais velhos, às grávidas, aos deficientes e aos menores não-acompanhados”, indicou a organização num comunicado.
O CICV, especializado na mediação e assistência humanitária em zonas de conflitos, mostrou-se disposto a agir como mediador neutro, facilitando operações de retirada segura de pessoas.
“As nossas prioridades são garantir a proteção das pessoas que se vão embora e das que optam por ficar”, afirmou a organização no comunicado.
Segundo o CICV, a situação humanitária no enclave montanhoso continua precária, com escassez de alimentos e medicamentos essenciais, além de cortes nas telecomunicações que dificultam a muitas pessoas o contacto com os familiares.
A organização ajudou na semana passada a retirar 50 pessoas com necessidades médicas urgentes e enviou 66 toneladas de ajuda humanitária, incluindo 1.500 litros de combustível para abastecer geradores e instalações médicas.
A Cruz Vermelha é o único organismo que conseguiu nos últimos dias fazer chegar ajuda humanitária à população de Nagorno-Karabakh, depois de para tal receber autorização das autoridades azeris.
A 24 de setembro, as autoridades da autoproclamada república de Nagorno-Karabakh, que capitulou após a operação militar lançada no dia 19 pelo Azerbaijão, anunciaram que os cidadãos que ficaram sem casa poderiam deslocar-se para a vizinha Arménia se assim o desejassem.
O resto dos cerca de 120.000 habitantes que pretendam deixar a região que será integrada no Azerbaijão poderá fazê-lo após concluída a saída dos deslocados e desalojados, indicou o Centro de Informação da autoproclamada república.
O Presidente azeri, Ilham Aliev, prometeu que os direitos das pessoas de Nagorno-Karabakh seriam respeitados, mas o primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinian, denunciou que está já a decorrer a “limpeza étnica” daquele território.
Hoje, os Estados Unidos anunciaram 11,5 milhões de dólares (10,8 milhões de euros) de ajuda humanitária para os milhares de refugiados que desde domingo abandonaram a região de Nagorno-Karabakh.
O anúncio foi feito por Samantha Power, a diretora da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento (USAID), ao visitar o centro humanitário instalado pelas autoridades arménias na localidade fronteiriça de Kornidzor.
“O dinheiro destinar-se-á a comprar alimentos e também a custear a ajuda social e psicológica”, indicou a responsável da USAID à imprensa.
O Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) declarou-se hoje “profundamente preocupado” com o número crescente de pessoas em fuga para a Arménia nos últimos dias, apelando para a proteção de civis e o total respeito das leis internacionais humanitárias e dos refugiados.
“Este conflito que dura há décadas, e que voltou a reacender-se, deslocou muitos milhares de pessoas, [e] as nossas equipas estão no terreno a tentar fornecer ajuda imediata. Precisamos de nos certificar de que os civis são protegidos e que a assistência humanitária chega a quem dela necessita”, declarou o Alto-Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, citado em comunicado.
Segundo o ACNUR, o Governo da Arménia está a criar estruturas de coordenação, com o seu apoio e o dos parceiros da ONU.
Além disso, a agência especializada das Nações Unidas indicou estar também a “codirigir o plano de contingência e de resposta interagências com o Gabinete do Coordenador Residente da ONU para apoiar a resposta do Governo”.
A terminar, o ACNUR reiterou o seu apelo às partes para que “se abstenham de ações que possam causar mais deslocações de civis e garantam a sua segurança e os seus direitos humanos”, porque “ninguém deveria ver-se obrigado a abandonar a sua casa”.
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