"Um total de 100.417 pessoas entraram" desde a rendição, em 20 de setembro, dos separatistas arménios do território localizado no Azerbaijão, anunciou neste sábado (30) Nazeli Baghdassarian, porta-voz do primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinian.
Isto significa que mais de 80% dos 120.000 arménios que viviam neste território do Cáucaso, segundo os dados oficiais, abandonaram as suas casas por medo das represálias das forças do Azerbaijão, apesar dos apelos de Baku para que continuassem nas suas residências.
Após a ofensiva relâmpago, os separatistas de Nagorno-Karabakh anunciaram na quinta-feira (28) a dissolução da sua república, proclamada há três décadas, em 1º de janeiro de 2024.
"Ainda restam algumas centenas de funcionários públicos, socorristas, voluntários e pessoas com necessidades especiais, que também estão a preparar-se para fugir", escreveu na rede social X (antes Twitter) Artak Beglarian, ex-mediador para os direitos de Nagorno-Karabakh, acrescentando que as informações "não são oficiais".
Muitos arménios queimaram objetos pessoais antes de entrar na fila de refugiados.
Missão da ONU
Na passagem de fronteira de Kornidzor, um correspondente da AFP observou a chegada de ambulâncias e os agentes informaram que aguardavam a entrada dos últimos autocarros com civis.
Na cidade arménia mais próxima, Goris, centenas de refugiados permanecem na praça com as suas malas e aguardam a disponibilidade de um local para dormir.
Garri Hariumian, em ex-soldado de 38 anos, conta que apagou do seu smartphone as fotos dos colegas mortos na frente de batalha para evitar problemas com as tropas durante a saída do país.
Quase 600 pessoas morreram na ofensiva relâmpago com a qual Baku recuperou o controle efetivo do território. Os combates mataram cerca de 200 soldados de cada lado.
A ONU anunciou o envio no fim de semana de uma missão a Nagorno-Karabakh para avaliar as necessidades humanitárias, a primeira delegação da organização a visitar o território em mais de 30 anos.
Nagorno-Karabakh, de maioria arménia e cristã, proclamou a secessão do Azerbaijão, de maioria muçulmana, durante o colapso da União Soviética.
Desde então, os arménios do território, que receberam o apoio de Ierevan, enfrentaram o governo do Azerbaijão, com duas guerras em três décadas: a primeira entre 1988 e 1994 e a segunda no fim de 2020, quando os separatistas perderam boa parte do território.
A França criticou o Azerbaijão por permitir o envio de uma missão da ONU apenas depois da fuga da maioria dos moradores.
Protesto na Arménia
Na fuga pela única via rápida que liga Nagorno-Karabakh à Arménia, ao menos 170 pessoas morreram numa explosão na segunda-feira (25) num depósito de combustíveis. O acidente também deixou 349 feridos, a maioria com queimaduras graves.
Samvel Hambardsiumian é um dos feridos e relatou à AFP o que aconteceu no depósito de combustíveis ao chegar à cidade arménia fronteiriça de Goris.
"Havia nove pessoas na minha frente na fila. Se não estivessem ali, eu seria carbonizado", disse à AFP o homem de 61 anos.
O fluxo ininterrupto e caótico de refugiados provocou novas acusações de "limpeza étnica" por parte de Ierevan, que neste sentido recorreu ao Tribunal Internacional e exigiu medidas urgentes para proteger os habitantes do enclave.
Vários funcionários do governo de Nagorno-Karabakh foram detidos e acusados de "terrorismo", além de outros crimes, incluindo o secretário de Relações Exteriores, David Babayan, preso na sexta-feira.
Numa Arménia sobrecarregada pela chegada de refugiados, a indignação é cada vez maior. Quase 2.000 pessoas protestaram em Ierevan e expressaram apoio ao ex-dirigente separatista Ruben Vardanyan, que foi detido.
Além disso, os críticos do primeiro-ministro arménio, acusado de passividade diante da vitória rápida das tropas do Azerbaijão, também planeiam um protesto na capital do país.
A Armênia culpa a Rússia, país tradicionalmente aliado e que desde 2020 tinha soldados de uma força de manutenção da paz na região de Nagorno-Karabakh, mas que desta vez não atuaram para garantir o respeito ao cessar-fogo.
A Rússia afirma que está a conversar com Baku sobre o futuro de sua missão de paz, agora obsoleta.
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