As divergências internas no seio da escassa maioria republicana persistem e, após seis votações sem sucesso desde terça-feira, os congressistas decidiram suspender as sessões até ao meio-dia desta quinta-feira (17:00 em Lisboa) para a votação do presidente da Câmara dos Representantes, a câmara baixa do Congresso dos EUA.
A decisão surgiu após a ausência de um acordo entre o republicano Kevin McCarthy e 20 opositores da ala mais conservadora do Partido Republicano, que controla a Câmara dos Representantes no Congresso norte-americano desde as eleições intercalares de novembro de 2022.
A eleição do líder da Câmara dos Representantes, conhecido como "speaker", requer uma maioria de 218 votos. McCarthy, no entanto, não somou mais de 203. Apesar de ser o favorito a suceder à democrata Nancy Pelosi, McCarthy continua incapaz de convencer o grupo minoritário que está a bloquear a votação e que o considera moderado demais. Sem o seu apoio, McCarthy não poderá ser eleito.
McCarthy, de 57 anos, acatou muitos dos pedidos do grupo, mas o impasse continua. Alguns dos opositores acusam o candidato de financiar candidatos mais moderados nas eleições intercalares de novembro, nas quais os conservadores conseguiram retirar o controlo aos democratas, mas ficaram muito aquém dos bons resultados que muitos meios de comunicação social previam.
Outros criticam McCarthy por não negociar com eles a reforma das regras do debate e os nomes para liderar as comissões do Congresso no novo mandato. Os Estados Unidos querem "uma nova cara, uma nova visão, uma nova liderança", afirmou um deles, Chip Roy, congressista do Texas.
Perante a fratura que ameaça abrir-se ainda mais no Partido Republicano, Donald Trump — que planeia recandidatar-se em 2024 e mantém uma pesada influência sobre o partido — declarou publicamente o seu apoio a McCarthy, mas nem isso logrou efeitos.
Na sua rede social, a Truth Social, Trump pediu ao partido que "evite uma derrota vergonhosa". "É hora de todos os nossos membros republicanos da Câmara votarem em Kevin, fecharem o acordo e alcançarem a vitória", publicou. "Kevin McCarthy fará um bom trabalho, e talvez até um ótimo trabalho", acrescentou o ex-presidente.
Por sua vez, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já qualificou como "vergonhoso" o bloqueio à eleição do novo líder da Câmara de Representantes, alertando que "o resto do mundo" está a observar os EUA de perto.
No entanto, as dificuldades dos seus rivais políticos parecem divertir alguns democratas, que foram vistos a rir-se e a aplaudir sarcasticamente os republicanos durante as sessões. Ao longo das votações, o partido de Biden uniu-se em torno da candidatura do líder democrata Hakeem Jeffries. No entanto, o congressista eleito por Nova Iorque não tem os votos suficientes calculáveis para ser eleito, ao contrário de McCarthy.
A situação, sem precedentes nos últimos 100 anos no Congresso dos EUA, paralisa a instituição. Sem um presidente da Câmara dos Representantes, os congressistas eleitos não podem prestar juramento e, consequentemente, aprovar projetos de lei.
O líder da Câmara dos Representantes é a terceira maior autoridade do país, depois do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e da vice-Presidente, Kamala Harris, que também preside ao Senado.
Alternativas procuram-se
Perante o impasse do Partido Republicano, o nome do congressista Byron Donalds, da Florida, está a emergir como uma possível escolha entre os conservadores que se recusam a apoiar Kevin McCarthy.
Os opositores de McCarthy indicaram vários outros candidatos, como Andy Biggs, do Arizona, ou Jim Jordan, de Ohio.
Byron Donalds juntou-se à lista de oponentes ainda na terça-feira, ao mudar o seu voto de McCarthy para Jordan e surge também como alternativa para liderar a câmara baixa do Congresso norte-americano, noticiou a agência Associated Press (AP).
Donalds, de 44 anos, foi eleito em novembro para o seu segundo mandato a representar o 19.º distrito da Florida, no sudoeste do Estado.
Natural de Brooklyn, Donalds foi criado por uma mãe solteira e formou-se na Florida State University em 2002. A sua mulher, Erika Donalds, é uma defensora do movimento de escolha escolar no Estado.
No ano passado, Donalds tinha dito à estação CBS que McCarthy tinha "feito coisas tremendas" pelos republicanos na Câmara dos Representantes.
E nas primeiras duas rondas de votação na terça-feira, Donalds votou em McCarthy antes de optar por Jordan na terceira ronda, realçando, através da rede social Twitter: "a realidade é... McCarthy não tem votos". Já esta quarta-feira, quando o seu próprio nome foi indicado, Donalds votou a seu favor.
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