“A UNRWA está totalmente infiltrada pelo Hamas, [e] precisamos de outras agências das Nações Unidas e de outras organizações humanitárias” em seu lugar, afirmou Netanyahu, numa altura em que a agência está a ser posta em causa por Israel pelo alegado envolvimento de alguns dos seus funcionários no atentado de 7 de outubro, o que desencadeou a suspensão do seu financiamento por alguns dos principais países doadores.
Hoje, o chefe do executivo israelita assegurou aos familiares dos mais de 100 reféns que continuam em poder do Hamas na Faixa de Gaza que está a ser preparado um plano para resgatá-los, no meio de intensas negociações para um novo cessar-fogo na guerra.
“Ainda é demasiado cedo para dizer como será, o plano está a ser feito neste mesmo momento”, disse Netanyahu a 26 representantes de 18 famílias, numa reunião realizada em Jerusalém, segundo um comunicado do seu gabinete.
“Estamos a fazer tudo o que é possível” para resgatar os reféns, garantiu o primeiro-ministro, escusando-se a fornecer pormenores sobre um eventual acordo com o Hamas.
“Quanto mais discreta for [a negociação], maiores são as hipóteses de êxito”, argumentou, asseverando que a sua vontade de recuperar os reféns é “genuína”.
Desesperados, os familiares dos reféns têm realizado manifestações cada vez mais maciças em Telavive, Jerusalém e outras cidades israelitas para pressionar Netanyahu a ceder às exigências do Hamas, para conseguir a libertação dos seus entes queridos.
Nas últimas semanas, o Hamas declarou-se disposto a libertar os reféns em troca de um cessar-fogo definitivo, o que Netanyahu tem veementemente rejeitado, por defender que a guerra deve continuar até que o grupo islamita seja “eliminado”.
No entanto, o Qatar, o Egito e os Estados Unidos, que estão a servir de mediadores na guerra entre Israel e o Hamas, estão a negociar uma nova trégua semelhante à realizada durante uma semana no final de novembro, que permitiu a libertação de 105 reféns em troca da libertação de 240 palestinianos (mulheres e menores) detidos nas prisões israelitas.
O Hamas – que exige a retirada total das tropas israelitas de Gaza – está atualmente a analisar um projeto de acordo proposto pelo Qatar que inclui a libertação de 35 reféns civis em troca de um cessar-fogo total durante 45 dias, a libertação de cerca de 100 prisioneiros palestinianos por cada refém libertado e um aumento da ajuda humanitária para a devastada Faixa de Gaza.
Numa segunda fase, seriam libertados os reféns militares e, numa terceira, seriam recuperados os cadáveres dos reféns que morreram em cativeiro.
No entanto, o ministro da Segurança israelita, o extremista antiárabe Itamar Ben Gvir, avisou hoje que não aceitará um acordo que implique a libertação de milhares de prisioneiros palestinianos ou que “ponha em perigo a segurança de Israel”.
Por seu lado, o ex-primeiro-ministro e líder da oposição israelita, Yair Lapid, disse ao Canal 12 que o seu partido está disposto a juntar-se ao Governo de Netanyahu “para substituir” os partidos ultranacionalistas Poder Judaico, de Ben Gvir, e Sionismo Religioso, do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, para garantir a libertação dos reféns.
Tanto Ben Gvir como Smotrich protagonizaram polémicas devido ao seu discurso de extrema-direita e contra a população palestiniana, que querem fora da Faixa de Gaza.
A 07 de outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) — desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel – realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.139 mortos, na maioria civis.
O Hamas fez também cerca de 250 reféns, 132 dos quais permanecem em cativeiro e 29 estão presumivelmente mortos, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para “erradicar” o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 117.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 26.900 mortos, quase 66.000 feridos e 8.000 desaparecidos, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais, e quase dois milhões de deslocados (mais de 85% dos habitantes), mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com toda a população afetada por níveis graves de fome, que já está a fazer vítimas, segundo a ONU.
Entretanto, centenas de israelitas descontentes com o fornecimento de ajuda humanitária a Gaza protestam diariamente no posto fronteiriço de Kerem Shalom, tentando impedir a passagem dos camiões.
Hoje, várias dezenas deles foram detidos durante confrontos, segundo a imprensa local, que indicou terem entrado por aquele posto 120 veículos com ajuda humanitária ao longo do dia.
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