O tanzaniano sucede-se assim à poetisa norte-americana Louise Glück, laureada em 2020. É a primeira vez desde 2012 que o Nobel é atribuído a um escritor não europeu ou americano: nesse ano foi Mo Yan, escritor chinês, a receber o prémio.

Nascido em 1948 na ilha de Zanzibar, na Tanzânia, Abdulrazak Gurnah mudou-se para o Reino Unido nos anos 60 com o estatuto de refugiado. Prosseguindo uma carreira académica, Gurnah foi, até à seu recente reforma, professor doutorado de Inglês e Literatura Pós-colonial na Universidade de Kent.

Apesar do Swahili ser a sua primeira língua, Gurnah cedo começou a escrever em inglês, fazendo desta a sua ferramenta literária. De acordo com a Academia Sueca, o grosso da obra de Gurnah — que consiste em 10 romances e vários contos — debruça-se sobre a condição do refugiado, da dificuldade entre manter a identidade que se carrega e a nova que é preciso criar numa nova terra, e tenta combater a perspetiva eurocêntrica e colonial, destacando a das populações indígenas.

Segundo a Academia Sueca, “a dedicação de Gurnah à verdade e a sua aversão à simplificação são impressionantes. Isto pode torná-lo sombrio e intransigente, ao mesmo tempo que segue os destinos dos indivíduos com grande compaixão e compromisso inflexível”.

Os seus romances “recuam das descrições estereotipadas” e abrem o olhar do leitor para uma África Oriental culturalmente diversificada, desconhecida de muitos em outras partes do mundo

Abdulrazak Gurnah não tem atualmente obra traduzida disponível em Portugal. O seu único título trazido para o mercado nacional é "Junto ao Mar", editado pela defunta Difel, em 2003.

Da obra de Gurnah, "Paradise", lançado em 1994, firmou-o como um nome a ter em conta na cena literária internacional, valendo-lhe nomeações para o Prémio Booker.  O já acima mencionado "Junto ao Mar" também esteve na calha para o prestigiado prémio.

O seu mais recente romance, “Afterlives”, foi lançado em 2020.

Tal como ocorreu em 2020, o Comité do Nobel da Literatura anunciou que os vencedores das diferentes categorias do Nobel não tomarão parte no tradicional jantar que ocorre em dezembro em Estocolmo devido à situação pandémica. Por isso mesmo, a cerimónia de entrega e os discursos dos vencedores são transmitidos.

A escolha de Abdulrazak Gurnah assume-se assim como uma surpresa face às previsões que se iam somando nos dias prévios a esta atribuição. De acordo com as bolsas de apostas, os vencedores mais prováveis eram a francesa Annie Ernaux, o queniano Ngũgĩ wa Thiong’o, o japonês Haruki Murakami e a canadiana Margaret Atwood. No que toca a escritores de expressão portuguesa, o moçambicano Mia Couto era aquele que se afigurava como o mais provável para receber o galardão.

Abdulrazak Gurnah é o 118.º laureado na história do Nobel da Literatura, mas há mais de três décadas que nenhum escritor africano negro era reconhecido com aquele prémio. Anteriormente, tinha sido o escritor nigeriano Wole Soyinka, em 1986.

Perante um galardão que é "historicamente muito ocidental", como escreve a agência France Presse, a última vez que a Academia Sueca distinguiu um autor africano com o Nobel da Literatura foi em 2003, ao sul-africano J.M. Coetzee.

De toda a história do Nobel da Literatura, atribuído pela primeira vez em 1901, mais de 80% foram autores europeus ou norte-americanos, contabilizou a AFP.

Os prémios Nobel, que este ano celebram o 120.º aniversário desde as primeiras atribuições, em 1901, são anunciados entre 4 e 11 de outubro.

Segundo a ordem estabelecida, o de medicina foi o primeiro a ser conhecido, seguido do da física e de química.

Os pontos altos são os anúncios dos prémios de literatura e paz, no dia 7 e 8 de outubro, respetivamente, antes do mais recente prémio de economia, ser atribuído, no dia 11 de outubro.

Os prémios Nobel nasceram da vontade do cientista e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896) em legar grande parte de sua fortuna a pessoas que trabalhem por “um mundo melhor”.

O prestígio internacional dos prémios Nobel deve-se, em grande parte, às quantias atribuídas, que atualmente chegam aos nove milhões de coroas suecas (cerca de 830.000 euros).

Alfred Nobel determinou a sua vontade num testamento feito em Paris, em 1895, um ano antes de sua morte.

Segundo os termos do testamento, cerca de 31,5 milhões de coroas suecas, o equivalente a 2,2 mil milhões de coroas na atualidade (203 milhões de euros), foram alocados a uma espécie de fundo cujos juros deviam ser redistribuídos anualmente “àqueles que, durante o ano, tenham prestado os maiores serviços à humanidade”.

O testamento previa que os juros do capital investido fossem distribuídos ao autor da descoberta ou invenção mais importante do ano no campo da Física, da Química, da Fisiologia ou Medicina, e da obra de Literatura de inspiração idealista que mais se tenha destacado.

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