Em 2001, depois da destruição World Trade Center de Nova Iorque pela Al-Qaeda, Shahana Hanif, com 10 anos, e a irmã mais nova iam a pé da sua casa em Brooklyn para a mesquita local usando ‘hijabs’ (véus), quando o condutor de um carro lhes gritou “terroristas”.
Vinte anos depois, Hanif ainda se lembra da confusão que lhe fazia que alguém pudesse olhar para ela, uma criança, e ver uma ameaça.
"Não é uma palavra simpática e amável. Significa violência, significa perigo. Significa choque para quem quer que (...) seja o destinatário dela", disse à agência Associated Press (AP).
Mas o incidente também estimulou a determinação de falar por si e pelos outros: Shanana Hanif tem trabalhado na área da organização e envolvimento comunitário e deverá ser eleita para o conselho municipal de Nova Iorque em novembro.
A experiência desta filha de pais do Bangladesh nascida nos EUA é idêntica à de outros jovens norte-americanos muçulmanos.
A islamofobia não começou em 11 de setembro de 2001, mas intensificou-se dramaticamente com os ataques reivindicados pela organização islamista de Osama bin Laden.
As diversas comunidades muçulmanas dos EUA foram, então, colocadas na ribalta, disse Youssef Chouhoud, um cientista político da Universidade Christopher Newport da Virgínia.
"O que distinguia [cada um] como norte-americano muçulmano? Poderia ser plenamente ambos, ou teria de escolher? Havia muita luta com o que isso significava", disse Chouhoud à AP.
Ishaq Pathan, 26 anos, ainda se recorda de um colega lhe ter perguntado se ia fazer explodir a escola que frequentavam no Connecticut, porque nesse dia parecia estar zangado.
Lembra-se também de se ter sentido impotente quando foi levado para um interrogatório adicional no aeroporto ao regressar de um semestre universitário em Marrocos: o agente examinou as suas coisas, incluindo um diário privado, que começou a ler.
"Lembro-me de ter lágrimas nos olhos. Estava completa e totalmente impotente", disse Pathan, que sentiu a necessidade de fazer alguma coisa.
Pathan trabalha hoje com o Grupo de Redes Islâmicas, em São Francisco, para ajudar os mais jovens a crescer com a sua identidade muçulmana.
Nascida na Somália, Shukri Olow fugiu com a família da guerra civil e esteve em campos de refugiados quenianos antes de passar a viver em Kent, a sul de Seattle.
Depois do 11 de Setembro, lembra-se de se ter sentido confusa quando um professor lhe perguntou: "O que é que o teu povo está a fazer?”.
"Há muitos jovens com múltiplas identidades que sentem (…) que não são bem-vindos aqui [EUA]. Eu era um desses jovens. E, por isso, tento fazer o que posso para garantir que mais de nós saibamos que esta é também a nossa nação", disse à AP.
Outros optaram por tentar combater conceitos errados sobre a sua fé através de contactos pessoais, como Mansoor Shams, 39 anos, que, em 2017, começou a viajar pelo país com um cartaz com a frase: "Sou muçulmano e fuzileiro dos EUA, pergunte o que quiser".
Amirah Ahmed, 17 anos, nasceu após os ataques em que morreram 2.996 pessoas, incluindo os 19 terroristas, e sente que foi empurrada para uma luta que não iniciou.
Há uns anos, numa cerimónia na sua escola na Virginia, usou um lenço decorado com a bandeira dos EUA para afirmar o seu patriotismo, depois de no ano anterior ter sentido os olhares dos colegas dirigidos para o seu ‘hijab’ tradicional.
Mas Ahmed espera que os seus futuros filhos não sintam a necessidade de “continuar a lutar pela sua identidade".
Nos últimos 20 anos, os norte-americanos têm estado divididos sobre se é mais provável o Islão encorajar a violência do que outras religiões, segundo concluiu o centro de investigação Pew num estudo divulgado no início do mês.
“Embora muitos norte-americanos tenham opiniões negativas em relação aos muçulmanos e ao Islão, 53% dizem não conhecer pessoalmente ninguém que seja muçulmano, e uma percentagem semelhante (52%) dizem saber ‘pouco’ ou ‘nada’ sobre o Islão”, lê-se no estudo.
Este ‘think tank’ apartidário de Washington também concluiu que “os norte-americanos que não são muçulmanos e que conhecem pessoalmente alguém que é muçulmano são mais propensos a ter uma visão positiva dos muçulmanos, e são menos propensos a acreditar que o Islão encoraja mais a violência do que outras religiões”.
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