Em dois dias, estas explosões, atribuídas pelo Hezbollah a Israel, deixaram 32 mortos e mais de 3.200 feridos, segundo balanços oficiais libaneses.

Uma fonte próxima do Hezbollah informou que os aparelhos de comunicação "explodiram no subúrbio ao sul de Beirute", um dos seus redutos, enquanto veículos de comunicação estatais anunciaram explosões no sul e leste do país.

"A onda de explosões inimigas dirigidas contra walkie-talkies matou 20 pessoas e feriu mais de 450", informou o Ministério da Saúde libanês.

A AFPTV registou imagens de pessoas a correr para se proteger, após uma explosão ocorrida durante o funeral de quatro militantes do Hezbollah mortos ontem na primeira onda de explosões de aparelhos de comunicação no subúrbio de Beirute.

Esse ataque, no qual centenas de pagers usados pelo Hezbollah explodiram, deixou 12 mortos e 2.800 feridos, centenas deles membros do grupo pró-iraniano, que prometeu um "castigo justo".

Segundo uma fonte da segurança libanesa, uma investigação preliminar apontou que os pagers "estavam programados para explodir e continham materiais explosivos inseridos junto à bateria".

Os pagers são aparelhos de troca de mensagens e localização de pequeno porte, que não precisam de cartão SIM, nem conexão com a internet.

No hospital Hôtel-Dieu de Beirute, a socorrista Joelle Khadra relatou que a maioria dos feridos apresentava ferimentos nos olhos e mãos, com amputações de dedos e alguns casos de perda de visão.

Israel não fez qualquer comentários sobre estas explosões. A primeira ocorreu horas depois de Israel anunciar a extensão para a sua fronteira com o Líbano dos objetivos da guerra que trava há mais de 11 meses com o movimento islamista palestiniano Hamas na Faixa de Gaza.

O ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, disse que "o centro de gravidade" do conflito "desloca-se para o norte", e que "uma nova fase" se inicia.

O Hamas condenou "energicamente a agressão sionista contra o povo irmão libanês" e ressalvou que estas operações "ameaçam a segurança e estabilidade" da região.

O ministro libanês, Abdallah Bou Habib, advertiu que "o ataque flagrante à soberania e segurança do Líbano pode ser o indício de uma guerra mais ampla".

Os Estados Unidos alertaram para uma "escalada" e vão reunir-se esta quinta-feira em Paris com países europeus para discutir as negociações de um cessar-fogo na Faixa de Gaza e a situação no Líbano, segundo fontes diplomáticas, antes de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU prevista para sexta-feira.

A Assembleia Geral da ONU pediu o fim da ocupação israelita dos territórios palestinianos em um prazo de 12 meses, numa resolução não vinculante denunciada por Israel.

Os ataques representaram um duro revés para o Hezbollah, já preocupado com a segurança das suas comunicações, após perder comandantes em ataques aéreos seletivos nos últimos meses.

Segundo uma fonte próxima do grupo, esse foi "o maior golpe já desferido contra a formação" por Israel. O chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, fará um pronunciamento público esta quinta-feira.

Desde o começo do conflito em Gaza, a fronteira com o Líbano tornou-se cenário de confrontos de artilharia quase diários entre o Exército israelita e o Hezbollah, o que causou o deslocamento de dezenas de milhares de civis em ambos os países.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse que o ataque de terça-feira ocorreu num "momento extremamente instável" e considerou "inaceitável" o seu impacto na população civil. O secretário-geral da ONU, António Guterres, ressalvou que "objetos civis" não deveriam ser transformados em armas.

O conflito em Gaza foi desencadeado pela incursão letal de comandos do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, que provocou a morte de 1.205 pessoas, em sua maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais israelitas.

Dos 251 sequestrados durante a incursão, 97 continuam retidos em Gaza, dos quais 33 foram declarados mortos pelo Exército israelense.

Os bombardeios e operações terrestres israelitas destruíram o território palestino e causaram a morte de pelo menos 41.272 palestinos, de acordo com dados do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis.