“Angola defende o princípio ‘Uma só China’ e Taiwan como parte integrante do território chinês”, afirmou o chefe de Estado angolano, durante um encontro com Xi, no Grande Palácio do Povo, junto à Praça Tiananmen, no centro de Pequim.

O princípio ‘Uma só China’ é visto por Pequim como garantia de que Taiwan é parte do seu território.

A China lançou, nos últimos anos, uma campanha para isolar internacionalmente a ilha, ao tentar fazer passar para o seu lado os aliados diplomáticos de Taipé e bloquear a participação do território em organizações internacionais.

Pequim passou também a enviar quase diariamente navios e aviões de guerra para próximo de Taiwan.

João Lourenço defendeu uma solução por meios pacíficos da questão de Taiwan, “a exemplo do que aconteceu com Hong Kong e Macau”.

Tal como a antiga colónia britânica Hong Kong em 1997, a administração de Macau passou em 1999 de Portugal para a China, graças a um acordo entre os dois países.

“Não há razões para se pensar de forma diferente depois desses dois casos de grande sucesso da diplomacia chinesa”, observou João Lourenço.

Taiwan mantém, atualmente, relações diplomáticas com 14 países e, embora, nos últimos anos, tenha perdido aliados, Taipé intensificou os intercâmbios oficiais com países como a Lituânia e a Eslováquia, que não reconhecem formalmente Taiwan como um país, através da abertura de agências de comércio e investimento.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas.

No entanto, Pequim considera Taiwan parte do seu território, e não uma entidade política soberana, e ameaça usar a força caso a ilha declare independência.

Ucrânia e Israel na agenda

“É imperioso que se ponha fim à guerra na Ucrânia”, afirmou também João Lourenço, durante o mesmo encontro. O conflito com a Rússia “deve terminar necessariamente à volta de uma mesa de conversações, para se alcançar a paz definitiva e garantir a soberania nacional da Ucrânia”, acrescentou.

João Lourenço defendeu a libertação dos reféns israelitas e o fim imediato da ofensiva militar israelita, que descreveu como desproporcional contra a população da Faixa de Gaza.

O governante apelou ainda ao fim dos colonatos e ao fim definitivo do conflito israelo-palestiniano com a criação de um Estado da Palestina que seja internacionalmente reconhecido.

“É a única solução definitiva para trazer a liberdade e dignidade ao povo palestiniano e garantir realmente a segurança de Israel e dos povos daquela conturbada região”, vincou.

Assegurando que Luanda e Pequim “comungam os mesmos valores” em matéria de política externa, incluindo os princípios da não-agressão e respeito pela soberania dos Estados, o líder angolano apontou para a “necessidade urgente” de executar “reformas profundas” na ONU.

“Os últimos acontecimentos na arena internacional vieram confirmar a necessidade urgente de se fazerem profundas reformas no sistema das Nações Unidas, nas instituições financeiras como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comércio, mas sobretudo no Conselho de Segurança, por se terem demonstrado ao longo do tempo desatualizadas do contexto do mundo de hoje, passados que são quase 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial”, afirmou.

O chefe de Estado angolano apontou para o “mau momento” que África atravessa, à medida que a emergência do terrorismo coabita com “mudanças inconstitucionais” em vários países do continente.

“As guerras na Europa e no Médio Oriente fizeram praticamente esquecer o conflito no Sudão, um país à beira de uma crise humanitária sem precedentes, com elevado número de baixas humanas que pode aumentar com a fome e doenças, deslocados internos, refugiados e grande destruição de infraestruturas”, apontou.

“Saímos da China muito satisfeitos"

O líder angolano defendeu que o papel da China deve sempre ser tido em consideração na configuração de uma nova ordem mundial e apontou para a aprovação de uma declaração conjunta que reflete a convergência entre os dois países.

“Saímos da China muito satisfeitos com a abertura e compreensão que encontrámos e que nos impele a estarmos cada vez mais próximos na defesa dos princípios e interesses comuns”, disse Lourenço.

O programa da visita do Presidente angolano inclui ainda a participação, hoje, num fórum de negócios sobre o investimento em Angola, e em encontros de trabalho com empresários chineses que já operam no país africano ou o pretendem fazer no futuro.

No último dia da visita, João Lourenço desloca-se à província de Shandong (leste), para contactos com os setores têxtil, farmacêutica e agrícola.

João Lourenço tem também agendado um encontro com representantes da comunidade angolana residente na China.