Chega a hora de acordar, as crianças sabem que vão para a escola e de um momento para o outros começam a demonstrar sintomas físicos, nomeadamente dores de barriga, cabeça ou mesmos enjoos. Ou então crises de choro. Esta é a realidade de muitos pais neste regresso à escola, nomeadamente daqueles que colocam os seus filhos pela primeira vez em estabelecimentos de ensino.
O que os pais podem então fazer? O SAPO24 foi à procura de soluções junto de quem é bastante procurado nesta altura do ano, nomeadamente psicólogos infantis.
"É uma das alturas do ano em que tenho mais a agenda preenchida, sem dúvida. São muitos os pais que querem ajuda neste regresso às escolas, mas o ideal era que começassem mais cedo a preparar os seus filhos para o ingresso ou regresso aos estabelecimentos de ensino. É muito natural que os mais pequenos sintam insegurança ao ficarem longe dos pais ou de figuras mais afetivas. É uma fase das suas vidas, esta separação, e por norma decorre entre os dois e os cinco anos. São sintomas de ansiedade e acontecem, geralmente, mais nas crianças que não passaram por uma creche ou infantário, que estiveram em casa antes do ingresso no pré-escolar", diz ao SAPO24 a psicóloga infantil Aurélia Rodrigues.
De acordo com a especialista neste tema, é "perfeitamente natural" que uma criança fique a chorar quando a "largam na escola sem esta estar devidamente preparada". Aurélia Rodrigues salienta que pede sempre aos pais que a consultam para se colocarem na pele dos seus filhos: quem são estas pessoas que não conheço, os novos 'amigos' que nunca vi e os adultos que não são os pais ou outra figura afetiva familiar.
"É muito natural que os mais pequenos sintam insegurança ao ficarem longe dos pais ou de figuras mais afetivas. É uma fase das suas vidas, esta separação, e por norma decorre entre os dois e os cinco anos"Aurélia Rodrigues, psicóloga
"É uma recusa escolar, uma situação estranha para as crianças. Se for a primeira vez que ingressam nestes tipos de estabelecimentos, eles não sabem que os pai as vão buscar no final do dia. Eles sentem-se abandonados, e, por isso, choram. Passam de um espaço restrito, a sua casa ou de uma avó, para um universo, a escola, onde deixam de ser o centro das atenções e com estranhos", diz.
Aurélia Rodrigues defende também uma integração "parcial" das crianças, embora reconheça a dificuldade deste tipo de situações. "É complicado, tanto do lado laboral dos trabalhadores, como do estabelecimento de ensino. São muitos os que não permitem a presença dos pais na escola. O bom exemplo seria a entrega progressiva da criança, como, no primeiro dia, ficar com a criança na escola; depois ausentar-se por algumas horas; outro dia deixá-la sozinha uma manhã e depois um dia inteiro. Isto seria o ideal, mas sabemos que é complicado, mas seria a forma natural de ajudar na ansiedade das crianças", salientou.
E o que pode ainda ser feito para ajudar os mais novos? Aurélia Rodrigues indica um estudo que há muito foi realizado por John Bowly, um psicanalista inglês que se dedicou ao desenvolvimento infantil, tendo-se destacado com um trabalho pioneiro na teoria do apego.
- É muito importante iniciar este trabalho de separação, começar, meses antes, a explicar às crianças que vão para a escola. Uma das formas é, por exemplo, dizer adeus quando sair de casa, explicando sempre que "já volta". Não podem sair escondidos, sem dar uma palavra à criança, gera ainda mais ansiedade.
- Nunca compense a criança se esta faltar à escola, porque está triste. A separação precisa ser compreendida como parte do dia a dia.
- A criança tem de reconhecer o sentimento de ausência, não pode fazer com que o ignore. Converse com a criança e explique que a ansiedade é normal, que é um sentimento que acabará por passar.
- No dia anterior ajude o seu filho a preparar a ida para a escola. Deixe-a escolher a roupa que vai usar, o pequeno almoço que vai comer e ainda os snacks que vai levar para a escola.
- É muito importante sorrir e mostrar tranquilidade à criança na hora de se despedir dela quando a deixa no estabelecimento de ensino. As crianças percebem a insegurança dos pais e isso só irá fazer com que a ansiedade aumente na hora da despedida.
- Linguagem positiva é essencial. Nunca diga ao seu filho "não sejas bebé", "não é preciso chorar", "não podes ficar triste, etc. Frases negativas aumentam a ansiedade. Ao longo do dia e na hora de deixar a criança, elogie os seus comportamentos e diga-lhe frases afetivas.
- Marcadores cronológicos. As crianças não têm a noção do tempo, por isso vá dizendo ao seu filho que o vai buscar após o lanche, após uma determinada atividade, etc. Assim a ansiedade vai diminuindo.
- Recorde-o de atividades que vai fazer na escola, as brincadeiras, os amigos novos, etc.
- O peluche. Deixe o seu filho levar o seu brinquedo preferido para a escola, o tal laço familiar, de conforto, que pode levar para o estabelecimento.
- Cumpra as promessas. Se chegar ao ponto de prometer isto e aquilo aos seus filhos, depois cumpra-os. É fundamental que a ligação de confiança não se quebre.
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