Os guias, que são hoje apresentados publicamente, numa cerimónia com a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, têm cada um 15 páginas com recomendações, tanto para os profissionais na área da educação, como para os pais, sobre a diversidade de expressões de género na infância e como lidar com a questão.

Em declarações à agência Lusa, a vice-presidente da Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual (AMPLOS) revelou algumas das recomendações feitas aos educadores e, no geral, a quem trabalha com crianças.

“Explicar às crianças que elas não são culpadas de qualquer discriminação de que são alvo. A criança não pode ter culpa de nada, é a sociedade que não a aceita”, adiantou Manuela Ferreira.

O guia começa logo por apontar que “por vezes, as crianças têm comportamentos e atitudes inesperados, que não correspondem aos papéis que normalmente se atribuem ao seu sexo” e que frequentemente há profissionais de educação que, quando são confrontados com estas expressões de diversidade de género, as consideram erradas e sentem-se na obrigação de corrigir esses comportamentos.

“O fundamental será então capacitar quem se relaciona com elas (no caso da escola essa informação deverá envolver toda a comunidade escolar), ajudando a compreendê-las, em vez de tentar que sejam as crianças a mudar os seus comportamentos”, lê-se no guia.

Aconselha, por exemplo, que sejam evitados “cantinhos”, como o cantinho das bonecas ou o cantinho dos carrinhos, frequentemente associados às meninas e aos meninos, respetivamente, e que é comum acontecer no pré-escolar.

Recomenda também que seja permitido à criança expressar as suas preferências, nomeadamente no nome e que se utilize o nome pelo qual a criança quer ser chamada mesmo que possa parecer desconforme com o seu género.

Manuela Ferreira apontou, por outro lado, que não se deve deixar que os casos de ‘bullying’ aconteçam e uma educadora, ou outro profissional, assim que tiver conhecimento de uma situação do género, em que a criança é insultada ou discriminada, deve intervir.

“E aproveitar até a situação para explicar as coisas e fazer disto uma lição para os restantes meninos”, defendeu, acrescentando que também se deve tentar abordar a família “para prevenir aquelas situações de silêncio”.

“O que não devem de todo fazer é ignorar. Esta é a mais importante das recomendações”, defendeu Manuela Ferreira.

Já em relação às famílias, a responsável da AMPLOS explicou que é importante, “antes de mais” mostrar que “o amor incondicional existe”.

“Só temos que aceitar os nossos filhos e continuar a amá-los. Isto é só uma característica, que pode ser esbatida com o tempo ou não, mas é uma característica e uma característica não pode ser um impedimento para que nós não continuemos a amar os nossos filhos”, apontou a responsável.

Manuela Ferreira salientou que também entre as famílias é importante não silenciar a questão, ressalvando que “o silêncio pode dar cabo de uma família inteira”.

“O melhor que nós podemos fazer é falar das coisas, sem medos”, aconselhou.

De acordo com Manuela Ferreira, a ideia de construção destes guias surgiu há uns anos, depois de uma família ter procurado ajuda junto da AMPLOS por causa do filho, que tinha na altura entre 6 e 7 anos e era discriminado na escola porque tinha comportamentos e escolhas que fugiam ao que era socialmente esperado de um rapaz.

Os guias foram sendo elaborados com a ajuda do Instituto de Apoio à Criança (IAC) e são apresentados em Odivelas, no dia em que se assinala o Dia Municipal pela Igualdade.

A vice-presidente da AMPLOS adiantou que a partir de sexta-feira os guias vão estar disponíveis no ‘site’ da associação, mas o IAC terá também exemplares em papel para distribuir pelas escolas.

A cerimónia de apresentação conta também com a presença do presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas, Filinto Lima, e do presidente da Confederação Nacional de Pais, Jorge Assunção.