O pedido para ouvir o diretor do Teatro Municipal do Porto foi feito numa carta dirigida ao presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, depois de a dramaturga Regina Guimarães ter acusado aquela estrutura municipal de censurar um texto da sua autoria.
"Perante a gravidade das decisões tomadas em relação ao texto que esteve previsto acompanhar o espetáculo Turismo, da Companhia A Turma, e face às explicações entretanto produzidas, os vereadores do PS dirigiram uma carta ao Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, pedindo que o Diretor do TMP seja convocado para prestar esclarecimentos na próxima reunião do executivo municipal que decorrerá na segunda-feira, dia 10 de fevereiro", assinalam numa resposta escrita à Lusa.
Os socialistas realçam, no entanto, que o percurso de Tiago Guedes, na direção do Teatro Municipal do Porto desde 2014, não deve ser esquecido, nem menorizado e salientam que o programa daquela estrutura municipal assenta "no respeito pela liberdade criativa e na promoção da diversidade e da tolerância, valores que o PS assume como seu e que "são incompatíveis com qualquer ato de censura".
Contactado pela Lusa, o vereador do PSD, Álvaro Almeida, adiantou que vai pedir esclarecimentos ao executivo, solicitando que o mesmo averigue se houve ou não censura. A ter havido censura, apontou em declarações à Lusa, "o PSD só pode ser crítico".
"A censura da liberdade criativa é algo que nós não podemos aceitar e, portanto, a ter havido censura, não é admissível que alguém que pratique censura tenha uma função de diretor de um equipamento municipal. Tudo isto com a ressalva de eu ainda não ter evidência suficiente que permita fazer esse juízo", declarou.
Também os eleitos da CDU do Porto, ouvidos pela Lusa, informaram que vão igualmente solicitar esclarecimentos na Assembleia e Câmara Municipal, e nessa sequência agirão em conformidade.
Segundo a CDU, as declarações dos envolvidos indicam que ingerência do poder institucional na criação artística e no conteúdo dos espetáculos realizados nos equipamentos de gestão municipal "foi exercida, o que se trata de um inaceitável comportamento da Direção do Teatro Municipal, que é tanto mais grave se se confirmar qualquer articulação a nível da vereação e Presidência da maioria grupo Rui Moreira".
Já o Bloco de Esquerda (BE), que tem apenas assento na Assembleia Municipal do Porto, "condena este ato de censura" que considera "intolerável" e ao qual os órgãos autárquicos da cidade não podem ficar indiferentes.
"Já na próxima segunda-feira há uma reunião da câmara municipal. O vereador da Cultura, que por acaso é o presidente da câmara, deve quebrar o silêncio em torno de algo que é gravíssimo e lamentável. Esperamos que pelo menos aí esclareça cabalmente a cidade sobre o que se passou", indicam em resposta à Lusa, questionando: "Tratou-se de um episódio, ou configura um padrão?".
O Bloco acrescenta que continuará a acompanhar os desenvolvimentos desta situação, aguardando "uma posição assertiva por parte das forças políticas presentes no executivo já na próxima segunda-feira, seja por via da condenação inequívoca desta atitude, seja por via do pedido de responsabilidades".
A Lusa tentou obter uma reação do PAN e do Movimento de Rui Moreira, Porto, o Nosso Movimento, mas até ao momento sem sucesso.
Na segunda-feira, a dramaturga Regina Guimarães acusou a direção do Teatro Municipal do Porto de censurar um texto da sua autoria, escrita para integrar a folha de sala do espetáculo Turismo, da Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia, que esteve em cena nos dias 31 de janeiro e 01 de fevereiro, no Teatro do Campo Alegre, no Porto.
Em causa uma nota de rodapé onde a escritora critica a noção de cidade líquida de Paulo Cunha e Silva, antigo vereador da Câmara do Porto, que morreu em 2015.
Na terça-feira, numa publicação na rede social Facebook, o encenador do espetáculo, Tiago Correia, desmentiu o diretor do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes, acusando-o de chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder.
Numa primeira reação, Tiago Guedes, em declarações à Lusa, garantiu que o texto da dramaturga não tinha sido publicado com a concordância com o encenador do espetáculo e que o mesmo tinha até lhe pedido desculpa.
Questionado pela Lusa, e já depois do desmentido de Tiago Correia, o Teatro Municipal do Porto, em declarações à Lusa na terça-feira, reiterou a versão contada pelo seu diretor, afirmando novamente que Tiago Guedes "articulou com o encenador da peça em causa a sua não distribuição, tendo obtido a sua concordância, como o próprio seguramente confirmará".
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