Num documento conjunto, organizações como a Sociedade Portuguesa de Cardiologia, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, entre outras, manifestam-se “fortemente preocupadas” com o surgimento de novos produtos de tabaco e lembram que estes “produzem aerossóis com nicotina e outros químicos”.
“Não devemos permitir que o debate em torno dos novos produtos do tabaco nos distraia do principal objetivo em questão – promover medidas regulatórias que sabemos serem eficazes na redução do tabagismo e continuar a apoiar aqueles que desejem parar de fumar”, escrevem.
No documento, as organizações dizem não recomendar a utilização de produtos de tabaco aquecido, alertam para os seus riscos e defendem: “a melhor forma de salvaguardar a saúde humana é a prevenção da iniciação de qualquer forma de consumo e o apoio médico para cessação tabágica”.
“Os PTA [Produtos de Tabaco Aquecido] contêm nicotina, substância altamente aditiva que existe no tabaco, causando dependência nos seus utilizadores, para além de estarem presentes outros produtos adicionados que não existem no tabaco e que são frequentemente aromatizados”, alertam.
Por outro lado, os PTA permitem “imitar o comportamento dos fumadores de cigarro convencional, podendo haver o risco de os fumadores alterarem o seu consumo para estes novos produtos em vez de tentarem parar de fumar”, escrevem.
As doze sociedades científicas e organizações de saúde recordam que estes produtos são também “uma tentação para não fumadores e menores de idade iniciarem os seus hábitos tabágicos” e dizem que a experimentação e o uso de cigarros eletrónicos e outros produtos de tabaco pelos adolescentes e jovens “está a sofrer um crescimento exponencial”.
“Já se demonstrou que aumenta o risco de iniciação também no cigarro convencional e noutras drogas”, insistem as organizações, para quem estes novos produtos “impõem o risco de renormalização do tabagismo e de uso duplo com cigarros convencionais”.
Recordam que, do ponto de vista de segurança e do risco para a saúde, “atualmente não existe evidência que demonstre que os PTA são menos prejudiciais do que o cigarro convencional” e sublinham que “não existe um nível de segurança para o uso do cigarro” e que “mesmo o consumo baixo produz doença significativa”.
“Assim, afirmar que os PTA contêm menos tóxicos não significa que se reduza o risco de doença”, insistem.
Dizem ainda que a indústria do tabaco “afirma que há uma redução de 90-95% na quantidade de substâncias nocivas e na toxicidade dos PTA” e defendem que grande parte destas alegações se baseia “em estudos publicados pela própria indústria, com conflitos de interesse evidentes”.
“Foram encontradas substâncias nocivas em altas concentrações nos seus estudos, como material particulado, alcatrão, acetaldeído, acrilamida e um metabolito da acroleína”, explicam, acrescentando que alguns estudos independentes encontraram concentrações mais elevadas de formaldeído em produtos de tabaco aquecido do que em cigarros convencionais.
Recordam ainda que “o primeiro estudo experimental comparando diretamente os efeitos do fumo de cigarro, vapor de e-cig e aerossol do iQOS mostrou que este último provoca o mesmo tipo de danos nas células pulmonares que o fumo de cigarro, mesmo em baixas concentrações”.
A Sociedade Portuguesa de Pediatria, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, a Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, a Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo a Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular e a Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária são outras das organizações que assinam o documento.
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