A anúncio de um ano sabático da competição em 2025 por parte de John John Florence, campeão do circuito mundial de surf na temporada passada, não foi uma total surpresa para quem acompanha, de perto, o Championship Tour (CT), circuito de elite da Liga Mundial de Surf (World Surf League).

O havaiano de 32 anos, três vezes campeão do mundo (2016, 2017 e 2024) e 12 temporadas na elite, decidiu apanhar a mesma onda dos dois últimos campeões do CT e tirou uma licença sabática das competições.

Os brasileiros Gabriel Medina, em 2022, nas primeiras cinco etapas e Felipe Toledo, durante o ano de 2023, decidiram fazer uma pausa por causa da saúde mental, não competindo no CT, respetivamente, parte de 2023, e 2024, na totalidade.

A saúde mental não é, no entanto, o caso do JJ Florence, pai no ano passado, cuja mente irá estar “focada em surfar de uma forma diferente este ano”, durante o qual procurará “explorar, encontrar novas ondas e levar o meu surf o mais longe possível”, disse, citado num comunicado da WSL.

O gesto de John John Florence em despir, por um ano, a licra, é acompanhado por Stephanie Gilmore. A australiana, oito títulos mundiais, o último dos quais em 2022, volta a pedir um tempo para si própria, depois de ter feito o mesmo na temporada 2024 e estende, assim, a pausa na competição.

“Após cuidada ponderação, decidi “tirar” mais um ano do Tour”, anunciou a GOAT do surf feminino, 36 anos de idade. “Este tempo permitirá focar-me em curar algumas lesões persistentes e redirecionar a minha energia para as minhas aventuras de surf à volta do mundo”, apontou Gilmore, membro permanente do circuito desde 2007.

Pausa: tendência ou são opões passageiras

A realidade mostra que um número crescente de surfistas, a meio da temporada, ou no final, estão a enterrar temporariamente as pranchas na areia e a fazer pausas competitivas. No passado, Kelly Slater, o 11 vezes campeão mundial, já havia feito o mesmo ao sair do circuito, tal como Tyler Wright.

Outros, retiraram-se cedo precocemente. Mike Fanning retirou-se do CT em 2018 e, no ano passado, Carissa Moore, pentacampeã mundial, 32 anos, medalha de ouro em Tóquio 2020, em Pipeline, baixou o pano de uma carreira ao mais alto nível durante 13 anos com intuito de preparar os Jogos Olímpicos Paris 2024.

A tendência não é nova. Se será passageira ou se as opções pessoais vieram para se intrometer no calendário do Tour, só os próximos eventos o dirão.

“Nos últimos anos assistimos a mudanças nas vidas de alguns dos nossos icónicos campeões mundiais à medida que iniciam novas temporadas nas suas vidas pessoais”, referiu Jessi Miley-Dyer, Comissária da WSL.

“Embora sintamos a falta deles durante o tempo em que estão de fora das competições, estamos entusiasmados com as portas que se abrem”, rematou.

Umas portas fecham, outras abrem-se

A ausência de uns, transforma-se na oportunidade de outros. Se uns fecham a porta, a WSL abre as portas à entrada de nove rookies (estreantes).

Florence está de fora este ano (regressa em 2026 via convite de temporada), abrindo a vaga para o estreante Alan Cleland Jr., o primeiro mexicano a competir, em permanência, no circuito anual do Championship Tour.

Gabriel Medina, lesionado e ausente, para já, das primeiras três paragens, de 12 que completam o Tour, será substituído por Ian Gentil (Havai). Por essa razão, estará fora do MEO Peniche Portugal Pro.

No lado feminino, a vaga aberta pela ausência de Gilmore (a quem tinha sido atribuído um convite da organização para este ano) desceu duas casas. Em teoria, de acordo com o WSL Rule Book (regulamento de competição) seria atribuída a Lakey Peterson (entretanto, recebeu convite da WSL), saltou, na prática, para as mãos de Luana da Silva, recém campeã mundial júnior WSL, a primeira brasileira a subir ao mais alto lugar do pódio.

Ausentes, na totalidade ou, em parte dos eventos, Florence e Medina têm, desde já, uma garantia. Têm as portas abertas para a temporada 2026 com o wildcard da WSL. “Estou focado na recuperar o mais rápido possível e voltarei à competição assim que conseguir, contudo, estou grato em receber o wildcard para 2026 o que me permite ter tempo suficiente para recuperar”, informou Medina.

Pipeline e Slater 

Florence, Gilmore e Medina, combinados, somam 14 títulos mundiais. Os nomes não surgem no alinhamento na abertura da temporada no Lexus Pipe Pro Presented by YETI, em Oahu, na costa Norte do Havai, onde está inscrito Kelly Slater.

O evento do CT em Pipeline, que arranca hoje e tem janela até dia 8 de fevereiro, não seria (ainda) o mesmo sem Slater.

Aos 52 anos, o GOAT entra como convidado da paragem que venceu em 2022, o oitavo triunfo na mítica onda nos 32 eventos em que participou, a 56.ª vitória do portfólio.

12 eventos e uma final 

Ao todo, o Championship Tour acolhe 12 eventos, mais três do que em 2024 e o maior número desde 1996, então com 14 paragens.

No circuito que atribui prémios iguais aos quadros femininos e masculinos, Peniche, Supertubos, recebe a 3.ª etapa. O mid season cut, corte de meio de temporada, acontece em Margaret River Pro, na Austrália (7.ª paragem), reduzindo os 36 surfistas masculinos e 18 femininos (26 a partir do próximo ano) para 24 e 12, respetivamente.

Em agosto, Teahupoo, Taiti, definirá os cinco homens e cinco mulheres que disputarão o WSL Finals. Este ano, a decisão dos campeões mundiais terá lugar em Cloudbreak, Fiji, substituindo Trestles, na Califórnia

2025 WSL Championship Tour:
No. 1 - Banzai Pipeline, Havai,7 de Janeiro a 8 de fevereiro
No. 2 - Surf Abu Dhabi, Abu Dhabi, EAU, 14 – 16 de fevereiro

 No. 3 - Peniche, Portugal, 15 – 25 de março
No. 4 - Punta Roca, El Salvador, 2 – 12 de abril
No. 5 - Bells Beach, Victoria, Austrália, 18 – 28 de abril
No. 6 - Snapper Rocks, Queensland, Austrália, 3 – 13 de maio
 No. 7 - Margaret River, Western Australia, Austrália, 17 - 27* de maio
No. 8 - Lower Trestles, San Clemente, EUA, 9 – 17 de junho
No. 9 - Saquarema, Rio de Janeiro, Brasil, 21 – 29 de junho
No. 10 - Jeffreys Bay, África do Sul, 11 – 20 de julho
 No. 11 - Teahupoo, Taiti, 7 - 16** de agosto
 No. 12 - WSL Finals - Cloudbreak, Fiji, 27 de agosto a 4 de setembro

*corte da temporada de 36 para 22 surfistas masculinos e de 18 para 12, no feminino

** determinará os 10 surfistas que vão disputar os títulos mundiais