"Querido Portugal, peço desculpa. Sou irlandês. Culturalmente temos uma abordagem muito diferente à morte. Nós celebramo-la. Isso não o torna a abordagem correta quando em Portugal. Amo este país como uma segunda casa e nunca procuraria ofender os grandes heróis portugueses do passado", escreveu Paddy numa publicação na rede social Twitter.
Anexada à mensagem pessoal, está anexado um comunicado onde pode ler-se: "Pedimos desculpa por qualquer ofensa causada. Este foi um jantar organizado segundo as regras do Panteão Nacional e realizado com respeito. A Web Summit estava a tentar honrar a História de Portugal e permitir aos nossos convidados apreciar o passado deste país. Culturalmente, os irlandeses celebram a morte, e no passado o jantar mais importante com founders tinha lugar na Catedral de Dublin, a maior cripta do Reino Unido e da Irlanda. Pedimos desculpa por termos tentado celebrar os founders desta forma".
O pedido de desculpa surge após a divulgação de informações nas redes sociais que davam conta da realização de um jantar exclusivo com convidados da Web Summit, em que participaram presidentes executivos, fundadores de empresas e ‘startups’, investidores de alto nível, entre outras personalidades. O jantar em questão chama-se 'Founders Summit' e decorreu na sexta-feira em Lisboa, no dia seguinte ao encerramento da cimeira tecnológica.
Na sequência destas revelações, o Governo classificou hoje a utilização do espaço do Panteão Nacional para a realização de um jantar exclusivo de convidados da Web Summit como “absolutamente indigna”, referindo que tal utilização estava enquadrada legalmente através de um despacho proferido pelo anterior executivo liderado pelos sociais-democratas. Acrescenta ainda o Executivo que vai proceder à alteração do referido despacho “para que situações semelhantes não voltem a repetir-se, violando a história, a memória coletiva e os símbolos nacionais”.
Reagindo à resposta ao Governo, o PSD afirmou hoje que a justificação dada pelo Executivo de António Costa é um “equívoco” e desafiou o Governo socialista a assumir responsabilidades por ter autorizado tal facto.
“Não vale a pena tapar o sol com a peneira e dizer que isto é responsabilidade do governo anterior. Não é verdade. É mentira. Responsabilidade do governo anterior foi a regulamentação da utilização dos espaços culturais. Responsabilidade do senhor primeiro-ministro e do seu Governo foi a autorização concedida à organização do Web Summit para realizar um jantar no Panteão Nacional”, frisou o vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Social-Democrata (PSD) Sérgio Azevedo, em declarações à agência Lusa.
A utilização de museus, palácios e monumentos nacionais, com objetivos promocionais, de divulgação cultural, filmagens e outros, está sujeita a um regulamento aprovado em 2014, que inclui tabela de preços e prevê a salvaguarda "da dignidade" destes locais. Cabe à Direção Geral do Património Cultural (DGPC), de acordo com o diploma, decidir, após parecer dos serviços dependentes, "da oportunidade e interesse da cedência, bem como das respetivas condições a aplicar".
No caso do Panteão Nacional, a lista dos "eventos permitidos", disponível no sítio 'online' da DGPC ao início da tarde de hoje, incluía, entre outros atos solenes e de caráter cultural, banquetes e receções.
Para o Panteão Nacional, os preços oscilam entre os 5.000 euros, por evento, no corpo central do edifício - sob a cúpula -, para fins comerciais, e os 1.500 euros da cedência do adro, para um acontecimento cultural.
No caso de jantares, o preço da tabela varia entre os 3.000 euros, no corpo central, e os 1.500, no coro alto do Panteão.
O Panteão tem também disponíveis a sala sul e o terraço, com preços entre os 750 euros (eventos culturais na sala sul) e os 5.000 euros (evento comercial no terraço).
A Web Summit teve lugar de 6 a 9 de novembro, em Lisboa e, segundo a organização, nesta segunda edição do evento em Portugal participam 59.115 pessoas de 170 países, entre os quais mais de 1.200 oradores, 1.400 investidores e 2.500 jornalistas. A cimeira tecnológica, de inovação e de empreendedorismo, nasceu em 2010 na Irlanda e mudou-se em 2016 para Lisboa por três anos, com possibilidade de mais dois de permanência na capital portuguesa.
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