Em entrevista à agência Lusa, Inês de Sousa Real considera difícil que o PAN venha a contribuir para uma maioria de apoio a um Governo da AD, sublinhando as diferenças programáticas, mas não exclui essa hipótese, referindo que o pós-eleições “vai exigir muita responsabilidade a todas as forças políticas, incluindo ao PAN, porque os portugueses estão cansados de instabilidade”.

“Nós sabemos que há partidos, por exemplo, que rejeitam negociar fora da esquerda e que dialogam apenas à esquerda, da mesma maneira que vimos a direita, de forma sectária, falar apenas à direita. O PAN (…) continua sempre a ser a força da oposição que mais foi capaz de fazer essas pontes de diálogo, mesmo tendo profundas divergências”, acrescentou.

Para Sousa Real, “qualquer solução que possa sair depois do 18 de maio, que conte com o contributo do PAN e com a agenda do PAN, será sempre uma solução distinta daquela que temos tido até aqui”.

Em relação ao PS, a porta-voz do PAN diz que há “sucessivos anos que o partido tem linhas vermelhas muito claras”, mas também “linhas verdes que têm que ser alcançadas” num acordo com os socialistas, como o fim do financiamento público a touradas, a aposta na transição energética, na economia verde e na resposta à crise da habitação.

O partido já estabeleceu como objetivo para as próximas legislativas eleger um grupo parlamentar, mas Inês de Sousa Real recusa, para já, tirar conclusões em relação ao seu futuro na liderança do partido caso o PAN não alcance esse objetivo.

“Nós temos tido ciclos políticos muito instáveis que não têm permitido sequer aos partidos consolidar aquilo que é a sua estratégia. Vamos ter eleições autárquicas, mas eu acredito que no dia 18 de maio não vamos ter apenas eu própria na Assembleia da República, mas vamos eleger também no distrito do Porto e resgatar um grupo parlamentar”, respondeu após ser questionada sobre o que fará caso os resultados não correspondam às expectativas.

Sobre a ameaça do voto útil para os resultados do partido, Sousa Real argumentou que “os portugueses estão cansados das promessas dos grandes partidos que prometem muito em tempo eleitoral, mas pouco executam”, salientando que, pelo contrário, o PAN, com apenas uma deputada, tem “conseguido fazer avançar causas muito importantes”.

A porta-voz do PAN garante também que o partido tem quadros preparados para reforçar um eventual grupo parlamentar, sublinhando a experiência do cabeça de lista do Porto no mundo empresarial, bem como a valência de outros candidatos em áreas como alterações climáticas, saúde ou educação.

Questionada sobre se avança para estas eleições com uma decisão sobre a sua posição no espetro político, Sousa Real reiterou que o PAN é “orgulhosamente um partido de causas”, mas que, na perspetiva social e económica, se percebe que “está num centro mais próximo do centro esquerda”.

O programa eleitoral completo do PAN será conhecido a 3 de maio, a apenas 15 dias da ida às urnas. Questionada sobre essa curta distância temporal, a líder do PAN garantiu que os eleitores já conhecem a ideologia do partido, e que o PAN prefere “ouvir as pessoas” e chamá-las à construção programa, optando por divulgar as propostas por capítulos.

O partido tem como principais novidades no seu programa eleitoral, explicou Sousa Real, a obrigação aos seguros à habitação de realojamento de vítimas de violência doméstica, o aumento de oferta pública de habitação no mercado ou uma maior aposta na esterilização animal e a criação de um SNS Animal.

A campanha eleitoral do partido vai passar sobretudo pelo contacto direto com a população e nas redes sociais, com especial foco em Lisboa e Porto – onde há maiores hipóteses de o partido eleger -, mas com passagem por “todos os distritos do país”, assegurou Sousa Real.

*Por Tiago Sousa (texto), Tiago Petinga (fotos) da Agência Lusa