O novo secretário-geral manteve-se à margem das críticas à atuação do Ministério Público e à interrupção da legislatura com maioria absoluta do PS, com um discurso focado nos problemas por resolver, ressalvando que espera ter uma boa relação institucional com Marcelo Rebelo de Sousa.

Na sua primeira intervenção, no sábado, na Feira Internacional de Lisboa (FIL), Pedro Nuno Santos declarou que "só erra quem faz" e acusou o PSD liderado por Luís Montenegro de "vazio de projeto".

No encerramento do Congresso, hoje, assegurou que, se formar Governo, seguirá um "um rumo disciplinado" e "sem surpresas e sem ruturas", mas com decisão, assumindo como prioridade um programa de apoios seletivos para a transformação da economia.

O secretário-geral do PS prometeu uma reforma das fontes de financiamento do sistema de segurança social, o aumento progressivo do salário mínimo para que atinja pelo menos 1.000 euros em 2028, definir com o Instituto Nacional de Estatística (INE) um novo indexante de atualização das rendas que tenha em consideração a evolução dos salários, valorizar a carreira médica e aumentar os salários de entrada na carreira docente.

O mote para a campanha eleitoral foi dado pelo primeiro-ministro e anterior secretário-geral dos socialistas, na abertura do Congresso, na sexta-feira: "Só o PS fará melhor do que o PS".

Na sua intervenção de despedida, António Costa lançou também o tom para o partido se mobilizar para as eleições de 10 de março: "Podem-me ter derrubado, mas não me derrotaram. Podem ter derrotado o nosso Governo, mas não derrubaram o PS".

"O PS está aqui forte, o PS está aqui vivo, o PS está aqui rejuvenescido, com uma nova energia, com uma nova liderança, e com o Pedro Nuno Santos nós vamos prontos para a luta e preparados para vencer", acrescentou, aplaudido pelos delegados.

O histórico socialista e conselheiro de Estado Manuel Alegre foi um dos que reforçaram essa mensagem ao longo do Congresso: "Parece que já se fala numa nova dissolução da Assembleia da República. Isso pode fazer-se uma ou duas vezes, mas ninguém dissolverá o PS. Ninguém dissolverá a capacidade de resposta, o espírito de resistência do PS que tem mais de 50 anos e nunca virou a cara à luta".

Carlos César, reeleito presidente do PS, foi o primeiro a criticar diretamente o Presidente da República pela dissolução do parlamento e convocação de legislativas antecipadas, na sequência da demissão de António Costa de primeiro-ministro, por causa da Operação Influencer, há exatos dois meses, em 07 de novembro.

"Nas circunstâncias então difundidas, o primeiro-ministro fez o que lhe era institucionalmente requerido, mas o Presidente da República, em resposta, não fez o que politicamente era devido", considerou o também membro do Conselho de Estado.

A divulgação de uma notícia sobre a alegada tese do Ministério Público no inquérito de que é alvo António Costa coincidiu com o dia de abertura do Congresso do PS, o que contribuiu para as críticas à atuação da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Uma das vozes críticas foi a do antigo ministro José António Vieira da Silva, que levantou hoje o Congresso ao afirmar que estão a ser colocados "em risco os fundamentos da liberdade, da democracia e do Estado de direito". Na véspera, outro ex-ministro, Eduardo Cabrita, considerou mesmo que foi a justiça quem demitiu o Governo chefiado por António Costa.

O antigo secretário de Estado Ascenso Simões criticou as magistraturas e o Presidente da República, que apontou como "o maior fator de instabilidade" no país. "Foi um erro nós termos indiretamente apoiado o professor Marcelo Rebelo de Sousa na sua reeleição", disse.

Em contraponto, Francisco Assis, presidente do Conselho Económico e Social, aconselhou o PS a não "explorar ressentimentos" e não fazer uma campanha voltada para o passado, mas para o futuro.

A moção política de orientação nacional do secretário-geral do PS, intitulada "Portugal inteiro", foi aprovada com 88,9% dos votos.

A lista única à Comissão Nacional do PS, órgão máximo entre congressos, que Pedro Nuno Santos acordou com José Luís Carneiro e Daniel Adrião, seus ex-adversários nas eleições diretas de 15 e 16 de dezembro, obteve 90,78% dos votos.

Na próxima semana, a nova Comissão Nacional irá eleger a Comissão Política Nacional e o Secretariado Nacional, órgão de direção executiva, com uma equipa proposta pelo secretário-geral.

Pedro Nuno Santos foi eleito secretário-geral do PS com 61% dos votos, enquanto José Luís Carneiro teve 37% e Daniel Adrião 1%.

José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna, defendeu que "é muito importante que a unidade que se está agora a viver no Congresso tenha depois seguimento na elaboração das listas de candidatura ao parlamento".