No seu espaço de comentário semanal no canal televisivo TVI, Paulo Portas lembrou que o “CDS só tem três antigos presidentes que nunca saíram do partido: o professor Adriano Moreira”, ele próprio e Assunção Cristas.
“E eu, por respeito às pessoas a quem pedi confiança e aos militantes que me ajudaram, farei tudo o que puder — incluindo pedir muita indulgência aos meus princípios democráticos — para conservar essa posição”, afirmou.
O ex-líder do CDS afirmou que as “pessoas com espírito liberal, no sentido da organização política, não andam em rebanho, tomam em consciência as suas decisões”, referindo a “circunstância” de ter sido durante “16 anos presidente do CDS” – entre 1998 e 2005 e novamente entre 2007 e 2016 — e tê-lo “tirado várias vezes do chão”.
“Foi muito esforço, muita renúncia, muita paciência e muita integração. Eu convidei sempre para as listas do CDS os adversários a quem venci no Congresso”, afirmou, citando os casos de Maria José Nogueira Pinto, José Ribeiro e Castro, Manuel Monteiro e Filipe Anacoreta Correia.
O antigo vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que a situação que o CDS vive atualmente é “com certeza grave”, alertando que “um partido pequeno se se dividir fica pequenino e, se se voltar a dividir, fica micro”.
Com duras críticas à atual direção do partido, liderada por Francisco Rodrigues dos Santos, Paulo Portas abordou as desfiliações dos últimos dias do CDS para afirmar que fica “muito impressionado quando um diretório fica contente com a saída daquele que é provavelmente o melhor gestor da sua geração — António Pires de Lima — ou quando fica contente, como quem diz ‘já nos livrámos dele’, com a saída de Adolfo Mesquita Nunes — que é provavelmente uma das cabeças mais brilhantes do centro-direita em Portugal, ou quando passam dois anos a tentar tirar do parlamento” a deputada Cecília Meireles.
“Há um qualquer problema de bom senso nesta forma de gerir”, frisou.
Questionado se, à semelhança de António Pires de Lima, também considera que não está em condições de recomendar o voto em Francisco Rodrigues dos Santos nas próximas eleições legislativas, Paulo Portas respondeu que, “neste momento”, ainda não são conhecidos “todos os fatores que são relevantes para definir o voto”.
“Sou muito amigo de muitas pessoas que saíram, tenho muita pena com o que aconteceu. Eu ainda gostaria de fazer um esforço por causa da minha circunstância: são 16 anos à frente do CDS”, afirmou.
O ex-dirigente considerou ainda que a “perceção externa” do que aconteceu no Conselho Nacional de sexta-feira “é terrível, pareceu uma associação de estudantes com más práticas”, comparou.
Acusando Francisco Rodrigues dos Santos de ter suspendido “um Congresso com uma disputa eleitoral aberta e sem saber qual era a data das eleições” legislativas e, “aparentemente, saltando vários prazos legais e regimentares”, Paulo Portas apelou para que o atual líder do CDS dialogue com o seu opositor na disputa pela presidência do partido, Nuno Melo.
“Eu, sendo prático, pegaria no telefone, ligaria ao opositor — sem câmaras nem luzes — procuraria conversar e chegar a um acordo sobre um congresso que se possa fazer e a sua data, sobre garantias de transparência eleitoral desse congresso, sobre limites à animosidade dos discursos, que ambos teriam que cumprir como cavalheiros, e sobre um princípio que eu chamaria de respeito mútuo: quem ganhar integra, quem perder, respeita”.
Interrogado ainda sobre se não considera “estranho” que um candidato se “furte ao escrutínio interno ao mesmo tempo que se candidata” a eleições legislativas, Paulo Portas respondeu que “um líder de um partido democrático não cancela eleições internas pela simples razão de que ficará sempre a dúvida se as cancelou por medo de as perder. É tão simples quanto isto”.
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