O Hospital Santa Maria está sem capacidade para "garantir" atendimento a doentes que cheguem sem referenciação do CODU (Centros de Orientação de Doentes Urgentes) do INEM porque "não vão ser atendidos". O Hospital "não tem capacidade para garantir esse acompanhamento".
De acordo com o diretor do Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa - Santa Maria, “há varias estruturas que funcionam antes das urgências hospitalares, apelo a que utilizem essas valências antes de virem para cá”, diz João Gouveia.
"Neste momento, temos uma dificuldade com o escoamento dos doentes" por causa do encerramento dos serviços de urgência dos outros hospitais, que faz com que haja "uma afluência contínua", disse o clínico, elucidando que tiveram mais de 700 doentes na urgência na segunda-feira passada.
"É impossível o Hospital responder sozinho a este problema", vincou João Gouveia numa conferência de imprensa no Hospital Santa Maria, que integra o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, juntamente com o Hospital Pulido Valente, sobre a situação das urgências.
“Estou a fazer este apelo porque já passei, enquanto médico, por situações que não quero voltar a passar”, diz o diretor em conferência de imprensa e que aponta as falhas de comunicação entre hospitais como uma das origens do congestionamento de ambulâncias à porta das urgências daquele hospital.
A recusa dos médicos a horas extras está a causar constrangimentos a pelo menos 27 hospitais de todo o país.
"No Santa Maria estão pedidos de escusa apresentados por dez médicos de cirurgia e dois de anestesia", diz o diretor do Serviço de Urgência do Hospital Santa Maria, em Lisboa que ativou o plano de contingência para os próximos dias.
A porta-voz do movimento "Médicos em Luta" disse, na terça-feira, que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) "está a ruir" e que os médicos já não conseguem travar essa "demolição", registando-se constrangimentos em 27 hospitais do país ao longo da semana.
Traçando um panorama geral do país, a médica revelou que entre hospitais, centros hospitalares e unidades locais de saúde, 27 estão com problemas devido ao facto de os médicos se recusarem a fazer mais horas extraordinárias do que as 150 que a lei lhes impõe, nomeadamente os de Almada, Amadora, Aveiro, Barcelos, Barreiro, Braga, Bragança, Caldas da Rainha e Torres Vedras, Coimbra, Covilhã, Famalicão, Gaia, Guarda, Leiria, Lisboa, Loures, Matosinhos, Penafiel, Portalegre, Porto, Póvoa de Varzim, Santa Maria da Feira, Santarém, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu.
“É o momento de nós darmos um grito e gritarmos aos portugueses e ao governo que o SNS está a ruir, ainda que haja muito boa vontade nossa já não conseguimos frenar esta demolição e, portanto, são precisas medidas”, ressalvou a porta-voz.
Na quarta-feira, a FNAM avisou em comunicado que as unidades de saúde e os hospitais mais periféricos serão os primeiros a sentir os efeitos da falta de médicos. "Tornou-se agora indisfarçável sem a possibilidade de o esconder com o abuso do recurso às horas suplementares", disse a Federação Nacional de Médicos.
"Alertamos que a situação vai ficar ainda mais difícil em novembro, uma vez que parte significativa dos médicos entregaram as suas declarações em outubro, nomeadamente em hospitais de referência como o Hospital Santa Maria, em Lisboa, os Hospitais de Santo António e de São João, no Porto, e o Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra".
A FNAM lembra ainda que "os médicos já fizeram este ano muito mais do que 150 horas extraordinárias: muitos fizeram 500, 600, 700 horas extraordinárias".
"Não é possível manter o SNS refém de trabalho suplementar. Não pode ser esta a grande reforma pretendida para o SNS", reclama a Federação.
*com Lusa
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