“Até agora, 19.000 pessoas deslocadas à força chegaram à Arménia vindas de Nagorno-Karabakh”, declarou na televisão o vice-primeiro-ministro arménio, Tigran Khatchatrian.
A 19 de setembro, o Exército azeri lançou uma ofensiva sobre as posições arménias no enclave, classificando a ação como “operação antiterrorista” e exigindo que os arménios depusessem as armas e que o Governo separatista (no poder ‘de facto’ desde 1994) se dissolvesse.
Um dia depois, as autoridades de Nagorno-Karabakh concordaram com as exigências militares, mas as conversações sobre a forma como a região virá a ser integrada no Azerbaijão não foram conclusivas.
Uma semana após a ofensiva azeri naquela região secessionista do Cáucaso, milhares de habitantes estão a tentar fugir e atravessar para a Arménia.
Hoje de manhã, o Governo arménio tinha anunciado ter já acolhido mais de 13.000 refugiados de Nagorno-Karabakh, enquanto um fluxo constante de veículos transportando famílias e os seus pertences empilhados nos tejadilhos se concentra junto do último posto de controlo fronteiriço azeri antes de entrar em território arménio, através do corredor de Latchin. Alguns atravessam a pé.
“Eles expulsaram-nos”, disse um homem ao passar em frente aos soldados azeris.
Na segunda-feira, o Presidente azeri, Ilham Aliev, tinha reiterado a promessa de que os direitos da população arménia do enclave seriam “garantidos”.
O chefe de Estado azeri falava ao lado do homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, ator central na região, apenas alguns dias após a vitória das forças azeris sobre as tropas da autoproclamada “república” de Nagorno-Karabakh — anexada em 1921 ao Azerbaijão pelo poder soviético.
A União Europeia (UE) recebe hoje em Bruxelas altos representantes da Arménia e do Azerbaijão, duas antigas repúblicas soviéticas que se confrontaram militarmente em Nagorno-Karabakh entre 1988 e 1994 (30.000 mortos) e no outono de 2020 (6.500 mortos). O balanço da invasão relâmpago da semana passada é de 200 mortos, segundo a parte arménia.
Simon Mordue, principal conselheiro diplomático do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, presidirá a este encontro na capital belga. O Azerbaijão e a Arménia, bem como França e a Alemanha, serão representados pelos respetivos conselheiros nacionais para a segurança. E o representante especial da UE para o Cáucaso do Sul, o diplomata estónio Toivo Klaar, participará também.
Por sua vez, o primeiro-ministro arménio, Nikol Pachinian, e o Presidente azeri reunir-se-ão a 05 de outubro em Granada, Espanha, com a presença do Presidente francês, Emmanuel Macron, do chanceler alemão, Olaf Scholz, e do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel — um encontro há muito agendado e que não foi cancelado.
O Azerbaijão comprometeu-se a permitir que os rebeldes que entreguem as armas vão para a Arménia.
Muitos temem que os arménios fujam em massa de Nagorno-Karabakh à medida que as forças do Azerbaijão se vão impondo. Além da angústia que reina entre os cerca de 120.000 habitantes, a situação humanitária é precária.
O afluxo à Arménia de refugiados do enclave originou enormes engarrafamentos na única estrada que liga a capital da região secessionista, Stepanakert, àquele país.
Na semana passada, Pachinian anunciou que o seu país, de 2,9 milhões de habitantes, se preparava para acolher 40.000 refugiados.
Por seu lado, a Rússia, que vê o Cáucaso como seu território e deslocou há três anos para o enclave montanhoso uma força de manutenção da paz, após uma breve ofensiva do Azerbaijão, rejeitou na segunda-feira firmemente as críticas de Pachinian, que a acusou de ter abandonado a sua aliada.
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