O título é do diário espanhol El País, que conta a história de Roberto Pérez Míguez, de 42 anos, picado na sexta-feira por uma caravela-portuguesa na praia da Abrela, Lugo. Que quase não sobreviveu para contar a história.

A água estava calma e Roberto começou a nadar em direção ao mar, como de costume. Meia hora depois algo se entrelaçou numa perna, depois peito e em ambos os braços. "Agarrei e vi a caravela", conta ao jornal, "pensei que podia voltar para terra, mas os meus braços e a minha perna estavam paralisados, o meu corpo ardia e as minhas pernas tremiam".

Por sorte, levava uma bóia. Esteve 12 horas no hospital e agora está bem, embora ainda esteja a tomar medicação e as marcas permaneçam tatuadas no seu corpo.

Vários exemplares têm sido avistados ao longo da costa espanhola, Cantábria, Galiza, País Basco, Andaluzia, e estão a obrigar as autoridades a colocar bandeiras amarelas ou mesmo a interditar diversas praias. É que a picada da caravela-portuguesa (chama-se assim devido ao seu aspecto acima da água) provoca irritação, queimaduras e tem efeitos neurotóxicos.

A caravela-portuguesa é uma colónia de organismos marinhos que se comporta como um único indivíduo, como se fosse um grupo de amigos que parte em viagem e partilha despesas. Este ser viscoso percorre grandes distâncias impulsionado pelo vento graças a uma espécie de flutuador com cerca de quinze centímetros que o mantém à tona da água e serve de vela, do qual pendem pendem longos tentáculos venenosos, que podem atingir meio metro de comprimento.

Costumam ser encontradas em mar aberto em todas as águas quentes do planeta, especialmente nas regiões tropicais e subtropicais dos oceanos Pacífico e Índico, assim como na corrente do Golfo do oceano Atlântico. Em Portugal também tem havido alertas.

Quais os cuidados a adotar em caso de contacto acidental com uma caravela-portuguesa?

  • Lavar e limpar com água do mar a zona afetada, sem esfregar;
  • Remover possíveis vestígios da pele com uma pinça;
  • Aplicar compressas quentes (40º C) durante cerca de 20 minutos ou aplicar vinagre sem diluir;
  • Se estiver em choque, com dificuldades em respirar ou a dor persistir, consultar um médico ou farmacêutico.

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), quando se avista "uma caravela-portuguesa no areal ou no mar", não se deve tocar e o passo seguinte é informar "as pessoas que se encontram nas imediações".

"Localizadas nos tentáculos, as suas células urticantes são capazes de causar queimaduras severas, mesmo após a morte do animal", é explicado.

Os avistamentos desta espécie em Portugal são monitorizados através do projeto de ciência cidadã GelAvista, desde 2016, que "desafia os cidadãos a contribuir para o desenvolvimento da ciência através da comunicação de avistamentos das espécies que ocorrem no país".

"A participação na monitorização de gelatinosos em Portugal é simples. Basta enviar a informação dos avistamentos através da App GelAvista ou para plancton@ipma.pt, partilhando o local, data e hora, o número estimado de organismos observados e, uma fotografia que permita a identificação da espécie (se possível junto de um objeto que sirva de referência de escala)", informa o IPMA.