Ricardo Vicente, que apresentou em 19 de junho a demissão do Observatório com críticas ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), ao Governo e à coordenadora do organismo, falava hoje na comissão de Agricultura e Mar, no Parlamento, após um requerimento do BE e do CDS-PP, sobre a situação do Pinhal do Rei.
O engenheiro agrónomo afirmou perante os deputados não haver “impedimento de corte da madeira”, salientando que o seu armazenamento “só iria valorizar”, já que “a sua permanência de pé é que a desvaloriza”.
“O facto de não ser cortada e não ser acompanhada torna esta mata num grande risco de propagação de pragas florestais, colocando em risco a parte que não ardeu e as ações de reflorestação dos jovens pinheiros”, afirmou.
Ricardo Vicente reiterou que o corte “já devia ter ocorrido”, lembrando que, do ponto de vista técnico, só não deve ser feito na parte mais próxima do mar, onde se mantém para reforço dunar.
O especialista alertou ainda para o “problema dos [espécies] invasores” na parte do pinhal que não ardeu, adiantando que na zona “existe um mato de plantas invasoras com cerca de três metros”, sendo “material lenhoso que aumenta o risco de incêndios”.
“É inaceitável esses 10% estejam por salvaguardar dois anos depois” dos incêndios, frisou.
Questionado pelos deputados sobre os motivos que o levou a abandonar o Observatório do Pinhal do Rei, criado na sequência do incêndio de outubro de 2017, Ricardo Vicente reiterou que se prendem com a “desconsideração” que sentiu que o órgão foi alvo por parte do Governo e também do ICNF.
O especialista lembrou que o Observatório realizou um parecer “muito relevante sobre o Relatório da Comissão Cientifica” a pedido do ministro da Agricultura e Florestas, Capoulas Santos, mas que, depois de enviado ao ICNF, “não se sabe se foram acolhidas algumas das propostas contidas”.
Ricardo Vicente confere ainda como desconsideração o facto de o ICNF ter publicado um relatório final, “depois do parecer pedido, sem que tivesse comunicado com o Observatório primeiro”.
O engenheiro adiantou ter sido após uma pergunta ao Governo, realizada pelo Bloco de Esquerda, que o ICNF "tomou a iniciativa de divulgar o parecer emitido, assim como a versão final do Relatório da Comissão Científica".
Para o responsável, é “uma falta de consideração pelo empenho e trabalho realizado pelos membros deste Observatório que não tenha sido o ICNF a informar que o trabalho estava concluído”, adiantando ter pedido uma reunião dos membros do Observatório que ainda não veio a acontecer, pelo que pediu a demissão.
Também chamada parlamento a pedido do CDS-PP e do Bloco de Esquerda, foi a coordenadora do Observatório do Pinhal do Rei e presidente da Câmara Municipal de Marinha Grande, Cidália Ferreira (PS).
A autarca disse aos deputados que “respeita a decisão pessoal” de demissão de um dos membros do Observatório, mas que não “valoriza um pedido entre mais de 30 membros”.
“Limito-me a aceitar a demissão”, frisou.
Sobre a ausência de reuniões do Observatório, desde dezembro, Cidália Ferreira justificou com a dificuldade de agenda para todo o grupo se reunir.
Elencou as ações que a autarquia e o Observatório realizaram após os incêndios no Pinhal de Leiria, a autarca disse que “se sente tranquila, mas não satisfeita porque não se vê o seu território da forma que gostaria”.
Cidália Ferreira emocionou-se perante os deputados, quando falou do estado em que se encontra o Pinhal do Rei, lembrando que “em quatro anos não se podia reflorestar” um espaço que tem séculos de história.
“É uma tristeza enorme não ter estradas abertas, mas é assim pela segurança das pessoas que ali nos visitam. É uma tristeza enorme em atravessar o ex-libris do nosso país e ver como está”, lamentou.
Da constituição do Observatório fazem parte a Câmara Municipal da Marinha Grande, a Assembleia Municipal da Marinha Grande, as freguesias da Moita, da Marinha Grande, de Vieira de Leiria, a GNR, os bombeiros voluntários da Marinha Grande e de Vieira de Leiria, o Instituto Politécnico de Leiria, o Instituto Superior Dom Dinis, a Ordem dos Engenheiros, a Associação Portuguesa dos Arquitetos Paisagistas, a Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais e o Centro de Estudos Florestais, além de alguns especialistas.
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