“Nunca votei em presidenciais, antigamente nós como emigrantes não podíamos votar, julgo que é uma coisa recente”, referiu José Ferreira, natural de Santa Maria da Feira e para quem “o voto presencial condiciona” a deslocação ao consulado-geral em Joanesburgo, no Norte da capital sul-africana.
“Se fosse eletrónico seria muito mais fácil, aí acho que toda a gente votava”, sublinhou o advogado português, salientando à Lusa que não vai votar porque sabe “quem vai ganhar”.
Em sua opinião, “uma abstenção significa que o candidato ideal é o que vai vencer”, referindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa.
Sérgio Andrade, reformado, ex-campeão nacional de Basquetebol da Académica de Coimbra, disse que também sabe quem são os candidatos “e quem vai ganhar”, mas frisou que não gosta de votar: “É sempre a mesma coisa, é sempre para os mesmos”.
Já a dúvida de Luís Ferreira, canalizador oriundo do Porto, é saber o que fazer quando se deslocar à única mesa de voto no consulado-geral de Joanesburgo, que serve uma vasta área de jurisdição que se estende, na África do Sul, às províncias de Gauteng (excluindo Pretória), Limpopo, North West, Mpumalanga, Free State e KwaZulu-Natal, e ainda ao Lesoto e ao Botswana.
“Gostaria, mas como no passado, não sabemos se os nossos votos valem ou se não valem, sabemos quem são os candidatos pela RTP Internacional, mas não sabemos como ir votar, aqui, o consulado não nos informa, estamos às escuras”, salientou Ferreira.
“Talvez vá votar”, referiu à Lusa Arlindo Pereira, mas apenas “se tiver informação correta”, porque, apesar dos apelos para votar, mas os votos “nem sempre chegam a Portugal”.
O técnico de elevadores oriundo de Almada considerou que “há pouca comunicação com a comunidade portuguesa”.
“Estamos esquecidos à semelhança dos outros países e se desta vez houver mais informação do consulado talvez vá votar”, referiu Pereira.
Para Larry Moreira, de 38 anos, natural de Joanesburgo, a dificuldade não parece ser de “logística”, mas sim a vida política em Portugal: “Não me diz nada, porque não me traz qualquer benefício”.
Moreira, um dos gestores da conhecida pastelaria portuguesa, emigrou para Portugal, em 1991, mas regressou oito anos depois à África do Sul.
“Fora o crime, as condições de vida eram muito melhores aqui, eram mais propícias”, frisou à Lusa o lusodescendente, que é também músico de profissão.
Larry Moreira salientou que “as eleições não dizem grande coisa aos lusodescendentes”, porque a maioria dos seus amigos “se tiverem de sair do país, vão para Londres, neste caso já não [devido ao Brexit], ou para a Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos”.
Graciano Ferreira, de 73 anos, natural do Montijo, considerou que os portugueses na África do Sul poderiam tem uma voz mais ativa “se o Governo se interessasse com os imigrantes na África do Sul”.
Mas as autoridades em Lisboa, segundo o técnico de instrumentação, procedem da maneira oposta: “Descuram quem está cá, interessam-se por certos países e aqui, por vezes prometem que vêm cá, mas não vêm por razões que desconhecemos”.
“Como eu me sinto, sentem-se todos os que cá estão e há um ditado que diz: 'quem não sente, não é filho de boa gente'”, rematou Graciano Ferreira.
As eleições presidenciais, que se realizam em plena pandemia de covid-19, estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.
Concorrem às eleições sete candidatos: Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS-PP) Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, João Ferreira (PCP e PEV) e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).
No estrangeiro, a eleição decorre nos dias 23 e 24 de janeiro, podendo votar os cidadãos portugueses que residem fora de Portugal e que estão recenseados na Comissão Recenseadora (CR) da sua área de residência (correspondente à morada constante do Cartão de Cidadão).
Esta eleição no estrangeiro terá cerca de 170 mesas de voto em 150 serviços consulares, número que representa um aumento de perto de 30% relativamente ao número de mesas de voto constituídas em 2016 (121).
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