“Pretendo ser chamado para esclarecer as denúncias que possam existir contra mim”, afirma o ex-diretor emérito do CES, numa carta enviada aos órgãos sociais e associados daquele centro de investigação, a que a agência Lusa teve hoje acesso.
Boaventura Sousa Santos afirma estar “com a consciência tranquila” face às acusações de que tem sido alvo, desde abril, por parte de investigadoras que nessa qualidade se relacionaram com a instituição na última década.
“A seu tempo e no lugar próprio, as refutarei uma por uma, mas dói que o CES pareça não ter qualquer interesse em ouvir a minha voz”, lamentou o professor catedrático jubilado da UC, de 82 anos.
Na carta, sublinha que, “como é comum em casos de linchamento mediático – pois disso se trata – surgem sempre novas acusações e o direito de defesa é negado”.
“Preocupa-me que não haja ainda (...) uma comissão independente para averiguar as denúncias. O CES não pode ficar de braços cruzados sem reagir às denúncias efetuadas. Também me preocupam as consequências que podem advir desta passividade por parte do CES, que podem pôr em causa a sua existência”, alerta.
Boaventura Sousa Santos recorda que se autossuspendeu das funções que tinha no centro “para facilitar as averiguações que houvesse por bem levar a cabo”.
“Todavia, até à data, nenhum avanço nesse sentido foi feito. A única consequência da minha autossuspensão foi terem-me retirado os meus orientandos, o que não aceito”, critica, para reiterar que nega “veementemente as acusações de cariz sexual e de extrativismo” que lhe são imputadas.
Para o sociólogo, “face à gravidade destas imputações, (…) o Centro de Estudos Sociais tem de agir rapidamente”.
“O CES sempre foi uma instituição que lutou contra as práticas que me e lhe são imputadas. Não pode o trabalho de décadas ser destruído por causa de umas pichagens sem qualquer fundamento”, acentua.
No seu entender, importa que os seus pares académicos, a Justiça e a comunicação social “conheçam a verdade”.
“Quero que exista um processo, interno ou externo, para que eu me possa defender (…). Mas não me qualifiquem de abusador, assediador ou extrativista”, reclama o cientista, que liderou em 1978 o grupo de fundadores do CES, que veio a ganhar reconhecida projeção internacional.
O CES, defende, “deve adequar as suas ferramentas a todo o tipo de denúncias, para proteção dos que se sentem abusados e também para proteção dos que são falsamente acusados”.
A Lusa tentou contactar o diretor do CES, António Sousa Ribeiro, mas não foi possível.
Hoje, em declarações ao jornal Público, António Sousa Ribeiro confirmou que a anunciada comissão ainda não foi criada porque o processo tem sido “bastante mais moroso” do que o previsto.
Segundo o responsável, a comissão independente será constituída “o mais rapidamente possível”.
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