No ano passado, concretamente no final de 2023, a revista Nature Communications publicou um estudo, com base no sismo de magnitude 7,8 registado em fevereiro do ano passado na Turquia e na Síria, que causou milhares de mortos, onde salientou que houve sinais sobre o terremoto que começaram cerca de oito meses antes.
Menos de um ano depois, exatamente a 28 de agosto último, foi a vez da Universidade do Alasca, nos Estados Unidos, concluir outro estudo em que salienta também que, de facto, poderá ser possível prever com meses de aviso grandes sismos. O estudo foi também ele publicado na revista Nature Communications e teve por base dois grandes terremotos: o de Anchorage, nos EUA, de magnitude 7,1 em 2018 e a sequência de sismos de Ridgecrest, na Califórnia (EUA), de magnitudes de 6,4 a 7,1 em 2019.
“O nosso artigo demonstra que técnicas estatísticas avançadas, particularmente usando inteligência artificial, têm o potencial de identificar precursores de terremotos de grande magnitude por meio da análise de conjuntos de dados derivados de catálogos de terremotos”, disse o geofísico Társilo Girona, responsável por este estudo.
O seu trabalho salienta que foi registada sismicidade regional anormal de baixa magnitude, em ambos os locais, três meses antes dos sismos. E aponta o caminho que deve ser seguido.
“Redes sísmicas modernas produzem enormes conjuntos de dados que, quando analisados adequadamente, podem oferecer insights valiosos sobre os precursores de eventos sísmicos. É aqui que os avanços em Inteligência Artificial e computação de alto desempenho podem desempenhar um papel transformador, permitindo que pesquisadores identifiquem padrões significativos que podem sinalizar um terremoto iminente.”
"Os especialistas nesse campo sabem que no dia X, de manhã, tarde ou à noite, vai chover, mas não sabem o horário de quando vai chover. O mesmo continuar a acontecer com os sismos"Rui Duarte
Perante este estudo, que não é único, o SAPO24 quis perceber se realmente o mesmo pode vir a ser real nos próximos tempos. Rui Duarte, geólogo e especialista em falhas sísmicas, tem muitas dúvidas.
"No futuro ninguém manda e é evidente que há muita evolução no estudo dos sismos e do que leva aos mesmos. Com a inteligência artificial, acredito que a evolução seja ainda maior e mais rápida, mas isso não quer dizer que consigamos prever os sismos. Ou melhor, até se pode vir a saber que irá existir um grande sismo e onde, devido a esses estudos e à computação com base em dados e algoritmos. Podemos saber o que vai acontecer, sim, mas o quando é mais complicado. Pelo menos nos próximos tempos", disse Rui Duarte, dando o exemplo da metereologia. "Os especialistas nesse campo sabem que no dia X, de manhã, tarde ou à noite, vai chover, mas não sabem o horário de quando vai chover. O mesmo continua a acontecer com os sismos".
Apesar do seu ceticismo quanto às previsões exatas de previsões sísmicas nos "próximos tempos", Rui Duarte acredita que o futuro poderá caminhar no sentido dos terremotos poderem vir a ser cada vez mais antecipados.
"Como disse, com muitos estudos, é possível dizer que em Portugal, no local Y, haja um sismo num determinado espaço de tempo, semanas, meses, etc. E acredito que com a evolução natural das coisas seja possível vir a encurtar esse espaço temporal, nomeadamente com o desenvolvimento da inteligência artificial, como é destacado neste trabalho. Este estudo, e outros semelhantes, apontam mesmo nesse sentido. Verificaram-se situações anormais meses antes do sismo, que podem servir para dar o alerta às populações, para se prevenirem. Agora o passo a dar é tentar encurtar este espaço temporal de aviso para semanas ou mesmo horas. Será muito complicado, muito mesmo, mas não se pode dizer que será impossível, dada a evolução da ciência", referiu.
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