“As detenções de ativistas pró-democracia em Hong Kong são profundamente preocupantes – a aplicação politizada da lei é incompatível com os valores universais da liberdade de expressão, associação e reunião pacífica”, escreveu o chefe da diplomacia norte-americana na sua página na rede social Twitter.
A polícia de Hong Kong levou a cabo, sábado, uma operação em larga escala contra dirigentes do movimento pró-democracia, prendendo 14 pessoas por terem apoiado ou participado nos enormes protestos que abalaram o centro financeiro da Ásia, no ano passado.
Entre os detidos está o magnata dos media Jimmy Lai, de 72 anos, fundador do jornal da oposição Apple Daily, que foi detido em sua casa.
Os deputados ou antigos deputados Martin Lee, Margaret Ng, Albert Ho, Leung Kwok-hung e Au Nok-hin, acusados de organizar e participar em comícios ilegais em agosto e outubro do ano passado, também foram detidos, informou a polícia.
Outras cinco pessoas, também detidas, são suspeitas de terem promovido manifestações proibidas em setembro e outubro.
“As pessoas detidas são ou serão acusadas de crimes relacionados” com este tipo de ações, afirmou o comissário da polícia Lam Wing-ho.
Os 14 detidos comparecerão em tribunal em meados de maio.
Jimmy Lai já tinha sido detido em fevereiro pela sua participação numa manifestação em agosto de 2019, que a polícia proibiu por razões de segurança.
“Acabei por ser detido. Como é que me sinto agora? Sinto-me muito aliviado”, disse Lai aos repórteres após a sua libertação sob fiança.
“Durante tantos anos, durante tantos meses, tantos jovens foram presos e processados, enquanto eu não fui preso. Lamento”, acrescentou o advogado que fundou o primeiro partido político de Hong Kong, onde é considerado o pai da democracia.
Na altura, sublinhou que não se arrependeu das suas ações e que se orgulhava de apoiar a juventude de Hong Kong na sua luta pela democracia.
Hong Kong foi abalada durante vários meses, em 2019 por enormes manifestações, algumas das quais violentas.
Os protestos foram inicialmente provocados por uma lei – agora abandonada – que permitia extradições para a China continental, onde os cidadãos têm menos direitos e o sistema judicial é muito mais opaco do que no território.
As detenções de sábado de líderes pró-democracia em Hong Kong são o golpe final ao conceito de “Um país, dois sistemas”, afirmou Sophie Richardson, diretora da Human Rights Watch na China, referindo-se ao princípio que garante liberdades na cidade que os chineses no continente não têm.
“É difícil prever os próximos passos de Pequim, mas parece que os dirigentes de Hong Kong continuarão a permitir abusos em vez de defenderem os direitos dos habitantes de Hong Kong”, afirmou.
Os grande protestos de 2019 no território semiautónomo transformaram-se rapidamente num movimento pró-democracia, exigindo mais liberdades, o que se tornou no maior desafio ao poder de Pequim desde que a antiga colónia britânica regressou à administração chinesa, em 1997.
As manifestações e os confrontos com a polícia cessaram gradualmente, em parte devido ao esgotamento e às detenções, mas também por causa da pandemia de covid-19.
Os líderes chineses recusaram-se a ceder às exigências dos ativistas pró-democracia, como a organização de eleições livres no território, uma investigação à violência policial durante os protestos e uma amnistia para as mais de 7.000 pessoas (muitas com menos de 20 anos de idade) detidas durante as manifestações.
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