“O nível de água nas barragens de Pego do Altar e Vale do Gaio, no concelho de Alcácer do Sal, está a cerca de 50% da sua capacidade, o que nos leva a prever, aqui nesta zona, uma quebra de 20 a 25% da área de cultivo normal”, explicou hoje à agência Lusa o diretor do APARROZ, João Reis Mendes.

Com 7.500 hectares de arroz para cultivar, o dirigente da APARROZ indicou que, devido à falta de chuva no último inverno para “garantir o abastecimento das barragens”, vai ser necessário “fazer um rateio da água” para rega.

“Em março choveu muito pouco, por isso, prevejo que vai haver necessidade de fazer um rateio da água de rega porque não temos água disponível. O que nos safou ainda foi a água que caiu em março, abril e maio do ano passado, que encheu as barragens que estavam praticamente secas e isso permitiu fazer a nossa campanha de arroz quase normal”, acrescentou.

No entanto, alertou o dirigente, “aquilo que sobrou do ano passado é o que temos disponível, porque este inverno foi seco e estamos, mais uma vez, com necessidade de reduzir a área de arroz”.

Apreensivo em relação à campanha deste ano, João Reis Mendes disse temer pelas consequências que a escassez de água nas barragens pode causar na economia do concelho de Alcácer do Sal, no litoral alentejano, que “é dependente do cultivo do arroz”.

“Significa prejuízos para os produtores, porque grande parte das áreas onde se cultiva o arroz é salgada por causa das marés e esta é a única cultura que consegue resistir ao sal. Portanto, se não fizermos arroz não podemos fazer mais nada e a economia de Alcácer do Sal depende essencialmente do arroz”, alertou.

De acordo com o representante dos orizicultores, a grande maioria das empresas “gira à volta” desta atividade e “muitas famílias que vivem desta realidade”, como a venda de produtos, pesticidas, oficinas ou secadores de arroz, “ficam sem atividade se houver redução da área”.

O ano passado, os produtores “conseguiram atrasar as sementeiras” e, graças à chuva que acabou por cair e encher as barragens, foi possível “cultivar praticamente toda a área e salvar a produção”, lembrou.

“Com a sementeira em maio, temos de tomar decisões sobre a área cultivada, encomendar as sementes e os adubos até ao fim deste mês, porque depois já não há sementes suficientes para ir ao mercado comprar. Ainda conseguimos atrasar as encomendas até à primeira semana de abril, mas não mais do que isso”, referiu.

Com mais um período de seca a bater à porta dos produtores de arroz do Vale do Sado, o dirigente defendeu “soluções de curto, médio e longo prazo” para minimizar os efeitos da falta de água, desde a “admissão de água da Barragem de Alqueva para o Pego do Altar” à “colocação de diques no rio Sado para reforçar as duas grandes barragens”.

“No ano passado foi criado um grupo de trabalho, coordenado pela Associação de Regantes do Vale do Sado e pela Agência Portuguesa do Ambiente e associações de produtores, no sentido de equacionarmos as pistas para obviarmos esta situação no futuro, mas, infelizmente, só no início deste ano é que se começou a trabalhar nesse sentido”, lamentou.

O grupo de trabalho prevê entregar, até ao verão, ao ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, um conjunto de medidas para posterior “avaliação técnica e financeira” e a sua implementação no terreno.

A APARROZ tem 30 sócios e trabalha com “cerca de 170 produtores”, maioritariamente de Alcácer do Sal, mas também dos concelhos de Montemor-o-Novo, Grândola e Santiago do Cacém.

Com uma “produção média anual de seis toneladas por hectare” e com “um preço médio de 280 euros por tonelada”, o cultivo do arroz é uma das principais atividades económicas de Alcácer do Sal, que, quando explorados os sete mil hectares, pode chegar a valer cerca de “10 milhões de euros”.