Deputado casual, esteve pouco menos de seis meses na bancada do PSD, entre 1995 e 1996, no parlamento, foi secretário de Estado da Cultura no Governo da Aliança Democrática (AD), de Sá Carneiro, mas o que o tornou conhecido foram as crónicas em que a política e os políticos foram a sua matéria-prima, e algumas vezes usadas no debate parlamentar.
“Às Avessas” era o título da crónica no semanário “O Independente”, de que foi diretor adjunto, escrevia a coluna “Faz de conta” no DN e, nos últimos anos o “Diário”, no Público, onde assinou o seu último texto a 25 de janeiro.
Apelidado de pessimista, foi crítico de todos os governos, da regionalização, de Cavaco Silva, de Mário Soares, analisou “os portugueses”, ou "os indígenas", que “dizem mal dos outros portugueses e de Portugal”.
“Mas isso significa que têm a segurança necessária e suficiente para dizerem mal de Portugal e dos portugueses”, disse na última entrevista que deu ao Público, em 21 de outubro de 2018, em que também confessou: “Nós somos ótimos!”.
Em democracia, ninguém escapou ao seu verbo e adjetivos e ficaram célebres algumas frases, curtas e incisivas, sobre as personalidades que fizeram a história do país desde 1974.
Sobre Cavaco Silva, ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República disse: “É a alma mais desértica que o Ocidente produziu. Nutro por ele um verdadeiro sentimento de horror.”
Apoiou Mário Soares na primeira candidatura presidencial, mas também o criticou. “Nunca tive ilusões em relação à sua verdadeira natureza. Tem convicções – poucas, mas firmes – e tem horríveis defeitos que o incapacitam para ser um governante ativo”, escreveu.
Na mesma entrevista ao Público, já após a morte de Mário Soares, afirmou ter falado com o antigo Presidente, um telefonema que descreveu assim: “Quando ele morreu estávamos em muito bons termos. Um mês antes dele morrer fiz-lhe um telefonema sentimental e delicodoce em que lhe disse que gostava muito dele. Mas dizer ‘amigos’ é excessivo. Amigos implica uma relação de igualdade que eu nunca tive com o dr. Soares.”
E saiu também da caneta de VPV a descrição que se colou a António Guterres, primeiro-ministro entre 1995 e 2002, “picareta falante”. “Fugiu e deixou o país num estado deplorável”, escreveu.
Dos políticos de hoje, também tinha opiniões fortes e foi ele quem associou, pela primeira vez o PS à palavra que o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa define como “coisa ou construção improvisada ou com pouca solidez”, em agosto de 2014.
Chamou “geringonça” ao PS, depois das eleições primárias para a escolha do candidato a primeiro-ministro, entre António José Seguro e António Costa: “O eleitor médio de qualquer partido (…) começa a fugir da geringonça a que se chama PS.” E em 16 de outubro de 2015, já com a “geringonça” em construção, escreveu, também no Público: “A cada erro, a cada fracasso, haverá uma tempestade geral e Costa não tem, fora da sua geringonça, em quem se apoiar.”
Um mês depois, ainda líder do CDS e no Governo, Paulo Portas, usou, no parlamento, o termo para atacar a solução de governo: “O acordo de esquerda não é bem um governo, é uma geringonça.” António Costa respondeu mais tarde: “É uma geringonça, mas funciona”.
Numa entrevista ao DN, também em 2018, fez uma análise sobre o primeiro-ministro, António Costa, a Rui Rio, líder do PSD, e a Marcelo Rebelo de Sousa, “um presidente implausível”.
“É muito mau, mas sem comparação com os anteriores. Estes senhores [Costa e Rio] podem ser medíocres, mas têm sentido das responsabilidades. Não são parvos como eram aqueles dois.” E os dois eram os antecessores de Costa, Durão Barroso, que “lá foi para a Europa ser criado dos outros”, e Pedro Santana Lopes, que “ficou cá e foi o desastre que se viu”.
O Presidente Marcelo também mereceu, há dois anos, uma tirada: “Já disse tudo o que tinha a dizer sobre Marcelo Rebelo de Sousa. É um presidente implausível. No outro dia estava a vê-lo na televisão a abraçar um boneco do Campeonato do Mundo na Praça Vermelha de Moscovo. E pensei: um senhor de idade, com uma situação na vida, de fatinho e gravata, a abraçar um boneco na Praça Vermelha. Isto faz algum sentido?"
Mas Vasco Pulido Valente elogiou alguém. De Cristiano Ronaldo, o futebolista, afirmou: “Se fosse um cirurgião, eu gostava de ser operado por ele.”
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