Vladimir Putin, como todos esperavam, iniciou o seu discurso a explicar as suas razões sobre o que chamou de “operação militar especial”, lançando acusações ao Ocidente e à NATO, sobretudo devido ao fornecimento de armas nucleares à Ucrânia.

“Faço este discurso num momento em que todos sabemos ser difícil e divisor de águas para o nosso país, um momento de mudanças irreversíveis em todo o mundo, os eventos históricos mais importantes que moldarão o futuro do nosso país e do nosso povo. Fizemos todos os possíveis, genuinamente, para resolver este problema por meios pacíficos. Fomos pacientes, estávamos a negociar uma saída pacífica deste difícil conflito, mas um cenário completamente diferente estava a ser preparado nas nossas costas. Estava tudo preparado para um ataque no Donbass, por parte de Kiev. Isso ia contra as regras do conselho de segurança da ONU. Gostaria de repetir, eles começaram a guerra, nós usámos a força para a parar. Passo a passo, cuidadosamente e sistematicamente, alcançaremos as tarefas que estamos a enfrentar", salientou, antes de lançar crítica ao Ocidente e NATO.

"Estão a fazer jogo sujo com as pessoas na Ucrânia. Enganaram o povo com mentiras totalmente sem princípios sobre o que estava a acontecer em Donbass", disse, comparando o "comportamento" do Ocidente com o que se passou na Jugoslávia, Iraque e Síria, “séculos de colonialismo e ditadura”, referindo também que são "totalmente responsáveis" pela escalada do conflito na Ucrânia.

"Durante a Conferência de Segurança da semana passada, foram lançadas muitas acusações contra a Rússia para desviar das ações ocidentais. Eles deixaram o génio sair da garrafa e mergulharam o mundo inteiro no caos. Eles não contabilizam  os sacrifícios humanos e tragédias. Roubam de todos e disfarçam com slogans de democracia e liberdade. Tentaram arrancar as terras históricas da Rússia, o que é agora chamada de Ucrânia. As elites ocidentais não escondem o seu objetivo, que passa por infligir uma derrota estratégica à Rússia. Isso significa acabar connosco de uma vez por todas. Usarão qualquer um, terroristas, nazis e até o próprio diabo para lutar contra a Rússia", disse Putin, que dirigiu também algumas palavras às pessoas das regiões na Ucrânia que a Rússia anexou em setembro do ano passado.

"Gostaria de expressar uma gratidão especial aos cidadãos das regiões de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporijía. Vocês  determinaram o vosso futuro. Vocês fizeram a vossa escolha apesar das ameaças de terror por parte dos nazistas. Ao vosso lado estavam a ocorrer ações militares e vocês fizeram a escolha de estar com a Rússia. De estar com a vossa pátria", referiu.

Perto do final do discurso, que durou duas horas, o líder russo anunciou ainda ir suspender a participação da Rússia no tratado de desarmamento nuclear New Start, o único tratado nuclear em vigor entre os Estados Unidos e a Rússia.

"Tenho de anunciar que a Rússia está a suspender a sua participação no Novo START. Ninguém deve ter a ilusão de que a paridade estratégica global pode ser violada", disse Putin, salientando também que o nível do equipamento das forças russas relativamente a armas nucleares modernas é "91% superior ao do Ocidente".

Refira-se que o dia escolhido para o discurso, que durou mais de uma hora e foi transmitido por todas as televisões públicas do país, coincide com a data em que Vladimir Putin assinou o reconhecimento da independência das repúblicas separatistas de Lugansk e de Donetsk, na região do Donbass. Nesse mesmo dia, 21 de fevereiro de 2022, Putin ordenou a mobilização do Exército russo para “manutenção da paz” nos territórios separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, um prelúdio para o início da ofensiva militar contra a Ucrânia que aconteceria poucos dias depois.