“As autoridades soviéticas criaram a Ucrânia soviética. Isso é uma coisa conhecida. E até essa altura não existia uma Ucrânia na história da humanidade”, defendeu Putin, durante um encontro com o presidente do Tribunal Constitucional da Rússia, Valeri Zorkin.
Putin fez o comentário enquanto olhava para o mapa do Império Russo desenhado na França no século XVII, oferecido por Zorkin, que recebeu hoje um prémio no Kremlin.
De acordo com os ‘media’ russos, neste mapa, vários territórios foram marcados como entidades independentes, como a Polónia ou a Lituânia, mas não a Ucrânia.
Durante a cerimónia realizada no Kremlin, Putin sublinhou que parte do povo russo foi separada do resto do Estado devido a uma “injustiça histórica”, aludindo à divisão da URSS em 15 países independentes em 1991.
“Mas eles nunca deixaram de ser o nosso povo”, explicou Putin, usando o mesmo argumento que tem repetido há vários anos.
O atual líder russo acredita que Kiev deveria agradecer ao fundador da URSS, Vladimir Lenine, por permitir a criação da República Socialista Soviética da Ucrânia.
A URSS nasceu em dezembro de 1922 como um estado federal, quando o ponto 26 do tratado contemplava o direito de cada república de sair livremente da união, deixando russos e ucranianos em pé de igualdade.
Esta opção foi aproveitada por várias repúblicas para romper com o controlo do Kremlin no final dos anos 80 do século passado, o que levou ao desaparecimento da URSS.
Putin não hesitou em acusar Lenine de ter colocado “uma bomba atómica sob o prédio chamado Rússia”, que “explodiu mais tarde”, ao reconhecer o direito à autodeterminação dos povos.
Recentemente, o Ministério da Educação russo anunciou o desenvolvimento de um novo manual de história para o último ano do ensino secundário com capítulos dedicados à ofensiva na Ucrânia.
A imprensa independente russa denunciou que referências positivas à Ucrânia desapareceram em várias descrições históricas, especialmente no que diz respeito ao primeiro reino eslavo medieval, com a capital na atual Kiev, e que tanto russos como ucranianos consideram ter sido o precursor primordial dos seus respetivos estados.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.895 civis mortos e 15.117 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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