Esta quinta-feira, a única certeza para os italianos é que irão a votos em 25 de setembro, cerca seis meses antes do que o previsto.
Mas mesmo antes de haver data definida, já os partidos italianos estavam em ‘reboliço’ perante a situação política, com alguns a perderem fiéis de longa data na liderança, após três parceiros-chave da coligação — populistas, de direita e conservadores — terem decidido abandonar Draghi.
Em 17 meses no comando do governo, Draghi era visto como um pilar de estabilidade numa nação, a terceira maior economia da União Europeia, assolada pela alta inflação e os temores da escassez de energia, à medida que a guerra na Ucrânia se arrasta.
Os comícios, petições e apelos de cidadãos, autarcas e diversas autoridades para salvar o governo foram ignorados, com as prioridades político-partidárias a triunfarem sobre a solidariedade.
A falta de atenção dos partidos aos apelos dos cidadãos pode moldar as decisões dos eleitores e os resultados das eleições apenas serão conhecidos até que todos os votos estejam contados e os partidos concluam as conversas de bastidores para formar governo.
Perante o apoio a Draghi, a questão em Itália é saber o porquê da queda do governo.
Muitas acusações foram direcionadas para o Movimento 5 Estrelas (M5S), a maior força política do Parlamento desde as eleições de 2018, sendo que o seu líder, Giuseppe Conte, foi escolhido para primeiro-ministro em governos consecutivos antes de se juntar à coligação de “unidade nacional”.
Conte pareceu sempre ‘irritado’ por ter perdido o lugar para Draghi, escolhido pelo Presidente Sergio Mattarella para liderar a recuperação económica italiana pós-pandemia.
Na semana passada, as peças de xadrez começaram a mover-se quando os senadores do M5S boicotaram um voto de confiança a um projeto de lei para o alívio de custos com a energia.
Draghi viveu também outros momentos de desentendimento com parceiros de coligação, como o líder de direita da Liga, Matteo Salvini, quando este criticou um decreto do governo que exigia vacinação contra a covid-19, teste negativo ou certificado de recuperação recente para aceder a locais como restaurantes, ginásios ou locais de trabalho.
O golpe fatal para o governo de Draghi ocorreu quando senadores dos partidos de Conte, Salvini e Berlusconi se recusaram a renovar o seu apoio ao governo, num voto de confiança que o primeiro-ministro procurou, numa tentativa de 11 horas para reavivar a coligação.
O chefe de Estado italiano anunciou esta quinta-feira à nação que, embora as eleições antecipadas sejam sempre uma “última escolha”, não havia outra alternativa do que avançar para o quarto governo no mandato de cinco anos do Parlamento, assinando um decreto a dissolver o Parlamento.
A Constituição italiana exige que as eleições sejam realizadas dentro de 70 dias após o decreto que dissolve o Parlamento e cujo mandato de cinco anos expiraria em março de 2023.
Entre a queda do governo e a marcação de eleições, outra questão é quem fica a ganhar com a situação. As sondagens dos últimos meses mostram que o partido de extrema-direita Irmãos de Itália, a única força considerável no Parlamento a recusar-se a juntar à coligação de Draghi, pode alcançar pouco mais de 20% nas urnas.
A mesma percentagem é atribuída pelas sondagens ao Partido Democrata de centro-esquerda.
Mas o ex-primeiro-ministro Enrico Letta, cujo Partido Democrata deu a Draghi o seu voto de confiança, está apostado numa eventual aliança eleitoral com o M5S, decisão que pode ser arriscada visto que os populistas ‘tiraram o tapete’ a Draghi.
Em queda parece estar já o Forza Italia de Berlusconi, que tinha ministros no governo de Draghi que já anunciaram que vão deixar o partido, acusando o bilionário e ex-primeiro-ministro de trair a vocação pró-Europa e pró-NATO do partido para se juntar ao eurocético Salvini e abandonar Draghi.
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