"Tivemos em janeiro uma situação que foi muito complexa, semelhante aquela que outros países passaram na primeira vaga, semelhante há que alguns países estão a passar agora e que na minha perspetiva foi fruto de um conjunto de circunstâncias que confluíram no mês de janeiro", começou por dizer Marta Temido, quando confrontada com a possibilidade de um aligeirar das restrições na época do Natal ter levado a que Portugal tivesse vivido uma terceira vaga.
A ministra da Saúde defendeu que "não há uma única causa explicativa", referindo que o facto de "termos entrado num desconfinamento numa fase em que os números ainda não estavam suficientemente baixos provavelmente precipitou que depois não tivéssemos conseguido recuperar daquele embate inicial do mês de janeiro". A isso somou-se uma "nova variante, a circunstância de ter sido um mês, em termos de temperaturas extremas, muito difícil e a circunstância obviamente de os comportamentos não terem sido compatíveis com aquilo que foram estas três circunstâncias".
"Não é por uma questão de não querer reconhecer o erro, se isso facilitar ou resolver alguma coisa, da minha parte, reconhecimento do erro é aquilo que menos custa", afirmou a governante antes de se escudar nos números desse mesmo período. Segundo a mesma, o facto de o nível de transmissão ter começado a subir no dia 25 de dezembro até ao dia 30 de dezembro, para depois o Rt começar a baixar nos primeiros 12 dias do ano, apesar de continuar alto, e depois voltar a subir até aos dia 18 de janeiro, dia a partir do qual começa a descer, são facto suficiente para concluir que, perante os comportamentos "em cada uma destas datas, não encontramos uma coerência que possa levar a uma explicação única".
Marta Temido afirmou que uma doença nova, que todos os dias nos tem surpreendido em termos de variantes", dificulta o processo e faz com que existam coisas "que ninguém pode planear", assumindo mesmo que "se alguém garantir que pode planear, não estará a falar a verdade".
"Nós não tivemos um caos instalados, tivemos uma situação extraordinariamente complexa em termos epidemiológicos que, como referi no pico da terceira vaga, iríamos conseguir superar e superámos. Passámos por momentos muito difíceis e não estamos livres que eles nos voltem a acontecer. Não estamos mesmo. É importante, quando se refere a questão do planeamento, que se diga que a única coisa de que nós temos a certeza é que há muitas incertezas e muitos aspetos que não dominamos e que os meios disponíveis são sempre finitos, por melhor organizados que estejam, por mais alocação de meios que se faça, por mais reforço de profissionais", alertou.
A ministra deixou também uma mensagem para quem esconde "a incerteza que todos enfrentamos numa capa de convicções, de certezas, de domínio da realidade": "hoje está claro, está à vista de todos, que essa não é essa a postura do Governo, não é essa a postura do Ministério da Saúde".
Professores e não docentes podem integrar primeira fase de vacinação
“Quando falamos de serviços essenciais - e as escolas são de alguma forma na nossa abordagem social um serviço essencial - poderá fazer sentido que os adultos que trabalham nestes locais tenham uma vacinação diferenciada”, afirmou Marta Temido.
A governante considerou que a inclusão dos docentes e não docentes, incluindo os que não integram grupos de risco, na primeira fase de vacinação que está a decorrer é uma “hipótese que está a ser analisada, não só em Portugal, como também em outros países”.
“Quando olhamos à nossa volta e vemos o que são os processos de desconfinamento, vemos a presença muito intensa de duas realidades: a vacinação e a testagem”, salientou Marta Temido, ao adiantar que a opinião dos especialistas “é bastante abrangente em relação àquelas que serão as várias opções que poderão ser tomadas”.
“Esta é, aliás, uma das dificuldades que temos tido até na comunicação: a circunstância de haver uma variedade de opiniões sobre o mesmo assunto, o que dificulta muito o processo de decisão”, admitiu a ministra.
Na mesma entrevista, Marta Temido avançou “ser natural” que o processo de desconfinamento, que será apresentado publicamente pelo Governo no dia 11 deste mês, “comece pelas escolas dos primeiros anos”, mas salientou que isso é ainda “uma hipótese”.
“Neste momento, consideramos que, da mesma forma que as escolas foram o espaço que mais procuramos proteger pela sua essencialidade em termos de educação e efeito no futuro da população, serão também as escolas a nossa principal preocupação no primeiro momento em que possamos fazer uma reabertura”, referiu.
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