A Mesa do Parlamento Europeu (PE), composta pelo presidente e pelos 14 vice-presidentes, decidiu na segunda-feira suspender as projeções da distribuição de lugares na da assembleia europeia previstas para o mês anterior às eleições de maio, passando de um total de nove estudos para apenas quatro.
A divulgação das projeções tinha sido anunciada como uma medida destinada a divulgar “uma informação clara e completa” e assim fomentar a transparência.
“Vejo mal, vejo muito mal, porque o Parlamento Europeu, que é uma instituição que devemos sempre valorizar por ser a única instituição europeia eleita por voto direto dos cidadãos e que é uma instituição que me diz muito, já funcionou de maneira mais transparente”, diz Rui Tavares, cabeça de lista do Livre às eleições de 26 de maio, numa entrevista à Lusa.
Para o candidato, que foi eurodeputado entre 2009 e 2014, o atual PE “não funciona de forma transparente por causa de pessoas que têm nome e que têm rosto e que são do Partido Popular Europeu, que é neste momento o partido que tem as manivelas do poder dentro do PE”.
Segundo Rui Tavares, o presidente do PE, Antonio Tajani, do partido do ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, a Forza Italia, e o líder do grupo parlamentar do PPE, Manfred Weber, “têm posicionado os seus aliados em lugares do funcionalismo” da instituição “dentro de uma lógica de um projeto de poder de que faz parte a candidatura [de Weber] a presidente da Comissão Europeia”.
“Candidatura essa e poder esse dentro do PE de que faz parte a aliança com a direita muito conservadora, extrema e iliberal, por exemplo, da Hungria” do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, acusa Rui Tavares, que em 2013 foi autor do primeiro relatório do PE sobre a situação dos direitos fundamentais na Hungria.
“Não é por acaso que Manfred Weber tem branqueado, durante dez anos, tudo o que Victor Orbán fez na Hungria”, diz, enumerando casos de violações dos direitos humanos no país do leste europeu.
“Isto passa-se no PPE de Manfred Weber, de Paulo Rangel e de Nuno Melo”, enfatiza, referindo-se aos cabeças de lista do PSD e do CDS-PP, respetivamente, os partidos portugueses que integram o PPE.
“E porque é que se passa? Não propriamente porque Manfred Weber seja um coração de pedra. Não. Porque é um homem muito ambicioso que precisa dos votos de Viktor Orbán para ser eleito presidente da comissão europeia em novembro”, acusa.
O candidato desvaloriza “a suposta suspensão” do PPE partido de Orbán, o Fidesz, apontando que o calendário decidido marca a conclusão da avaliação à Hungria para setembro: “Quando é que é nomeada a Comissão Europeia? Em outubro, novembro. Quem é que tem o voto decisivo? Os governos nacionais, incluindo o sr. Orbán”.
“Não é por acaso que o calendário é este e não é por acaso que no PE começamos a ver cada vez mais decisões pouco transparentes, decisões pouco abrangentes. E isso é um risco grave”, assegura.
“Sempre foi muito importante para a credibilidade do Parlamento Europeu que o seu funcionamento fosse relativamente neutro e equidistante”, frisa, destacando a necessidade de o próximo PE “cortar com estas alianças espúrias que o PPE está a fazer à sua a sua direita e voltar a ter um Parlamento europeu equidistante e neutral na sua forma de comunicar com os cidadãos”.
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