O Ministério Público francês confirmou hoje a decisão de julgar o antigo presidente Nicolas Sarkozy em resultado de um inquérito sobre alegados financiamentos ilegais da sua campanha às presidenciais de 2012, que viria a perder para François Hollande.
A Procuradoria de Paris informou que Sarkozy e outras 13 pessoas irão responder em tribunal sobre alegações segundo as quais a campanha fracassada para a reeleição do antigo presidente gastou bastante mais do que o teto de 22,5 milhões de euros legalmente estabelecido.
O advogado do ex-presidente, Thierry Herzog, disse em comunicado que só um dos dois juízes instrutores do chamado “caso Bygmalion” assinou a decisão de levar Sarkozy a julgamento, um facto que considerou “muito pouco habitual” e que, na sua opinião, “ilustra a inutilidade da decisão”.
O advogado acrescentou que o seu cliente já pagou uma multa depois de o Conselho Constitucional sinalizar em julho de 2013 que superara o limite de despesas permitido.
Sarkozy pagou então 363.615 euros do seu próprio bolso, enquanto, através de um peditório junto dos militantes e simpatizantes do partido, recolheu os quase 12 milhões de euros que o Estado lhe tinha pago como gastos de campanha e que o Constitucional o obrigou a devolver.
Herzog considerou “fantasioso” o valor de 42,8 milhões de euros que a acusação considera que custou a campanha de Sarkozy em 2012 e que foi ocultado das autoridades através de um esquema de faturas falsas pela empresa de comunicação Bygmalion.
Responsáveis da Bigmalyon reconheceram a existência de fraude e de contabilidade falsa e o julgamento irá focar-se sobre se Sarkozy, ele próprio, tinha conhecimento ou tomou quaisquer decisões sobre o assunto.
Apenas um outro francês — Jacques Chirac — foi julgado ao longo da quinta república francesa, fundada em 1958. Chirac foi condenado a dois anos de pena suspensa em 2011 no processo relacionado com um emprego falso.
Questionado pela polícia em 2015, Sarkozy disse que não se lembrava de alguma vez ter sido alertado para as contas da campanha e descreveu a controvérsia como uma “farsa”, atribuindo a responsabilidade da mesma à Bigmalyon e ao UMP.
O caso da Bigmalyon é o mais premente, mas o único em que antigo presidente francês se encontra implicado. Sarkozy viu-se envolvido em várias frentes legais desde que perdeu as eleições para François Hollande em 2012.
Depois de uma breve retirada da política a seguir a essa derrota, Sarkozy regressou para assumir a liderança de Os Republicanos e foi com surpresa que o partido o preteriu nas primárias para as eleições presidenciais de abril e maio próximos, escolhendo em novembro último o número dois do partido e atual líder em todas as sondagens, François Fillon.
A notícia do julgamento de Sarkozy representa, no entanto, mais uma ameaça política à hipóteses de Os Republicanos elegerem o seu candidato, numa altura em que o próprio Fillon se encontra envolvido num escândalo relacionado com um alegado emprego fictício da sua mulher no parlamento francês.
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