“A produção do ano passado foi péssima porque o verão de 2022 foi muito irregular, com temperaturas muito irregulares. Este ano temos expectativas melhores. Não tenho dúvidas de que a produção deste ano será maior e melhor”, disse à agência Lusa João Reis Mendes, do Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado (Aparroz), que também perspetiva “a manutenção ou uma ligeira subida de preços”.
A Aparroz, a maior organização de produtores de arroz do vale do Sado, representa grande parte dos cerca de 250 orizicultores daqueles dois concelhos do litoral alentejano, Alcácer do Sal e Santiago do Cacém, ambos no distrito de Setúbal.
Segundo João Reis Mendes, “embora este ano não tivesse havido falta de água para a produção de arroz em Alcácer do Sal, as barragens de Pego do Altar e Vale de Gaio estão a níveis muito baixos, o que poderá condicionar a produção de arroz do próximo ano se não chover o suficiente nos próximos meses”.
“De quatro em quatro anos, de cinco em cinco anos, temos aqui uma quebra da área cultivada em Alcácer. Tem de haver um rateio porque a água nas barragens não é suficiente”, disse João Reis Mendes, defendendo a necessidade de se encontrarem “soluções para resolver o problema da falta de água a médio e longo prazo”.
“Tem de haver planeamento e não medidas de emergência. Se não houver planeamento, estamos constantemente com medidas de emergência a ‘apagar fogos’. E não é isso que se pretende”, acrescentou João Reis Mendes.
Bem pior do que a situação que se vive nas barragens do concelho de Alcácer do Sal, é a realidade da barragem de Campilhas, em Santiago do Cacém, onde alguns produtores já deixaram de produzir há três ou quatro anos devido à falta de água.
Segundo José Pereira, da Associação de Agricultores do Distrito de Setúbal (AADS), que representa cerca de duas dezenas e meia de orizicultores, principalmente das zonas do Carvalhal (Grândola) e da Comporta (Alcácer do Sal), “a barragem de Campilhas poderia ser recarregada a partir da barragem do Alqueva, mas o preço da água cobrado pela EDIA, Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, é incomportável para os produtores de arroz”.
José Pereira adverte, por isso, para a necessidade de haver medidas para ajudar os produtores de arroz da região e defende que os apoios financeiros não devem ser todos canalizados para outras culturas.
“Não queremos que se continue a aumentar o olival e o amendoal, o que significa um grande consumo de água, porque antes era só a oliveira, mas agora já é também a amêndoa e o abacate. E não queremos que o dinheiro vá só para aí”, sublinhou José Pereira, reiterando a necessidade de se encontrarem soluções para garantir a disponibilização de água a preços comportáveis para os produtores de arroz.
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