Os serviços secretos sul-coreanos “detetaram, entre 08 e 13 (de outubro), que a Coreia do Norte transportou as suas forças especiais para a Rússia num navio de transporte da Marinha russa, confirmando o início do envolvimento militar da Coreia do Norte” nos esforços de guerra russos na Ucrânia, indicaram num comunicado, composto também por imagens de satélite detalhadas.

Momentos antes, Seul já tinha avançado que Pyongyang decidiu enviar 12 mil soldados para lutar pela Rússia contra a Ucrânia, possibilidade que já tinha sido avançada pelo Presidente ucraniano.

Segundo os serviços de informações da Coreia do Sul, citados pela agência de notícias Yohhap, a “Coreia do Norte terá decidido recentemente enviar cerca de 12.000 soldados, incluindo forças especiais, para a guerra na Ucrânia”.

A mesma fonte adiantou que a deslocação norte-coreana “já começou”, sem adiantar mais pormenores.

Na quinta-feira, o vice-ministro da Defesa da Coreia do Sul, Kim Seon Ho, admitiu a possibilidade deste destacamento acontecer, mas considerou que a Coreia do Norte poderia decidir enviar “pessoal civil em vez de militar”.

Hoje, o gabinete da presidência sul-coreana sublinhou que o crescente apoio de Pyongyang à guerra de Moscovo na Ucrânia vai “além da transferência de equipamento militar”.

Este apoio “traduz-se no envio de tropas” e representa “uma ameaça significativa à segurança não só do nosso país, mas também da comunidade internacional”, alertou.

O chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, advertiu, na quinta-feira em Bruxelas, que cerca de 10.000 soldados norte-coreanos estavam a ser destacados para o território ucraniano ocupado pela Rússia, e preparados para lutar, tendo afirmado que isso constitui “mais um passo em direção a uma guerra mundial”.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

O nível de colaboração militar entre Moscovo e Pyongyang — reforçado durante a visita do Presidente russo, Vladimir Putin, em junho — tem sido motivo recorrente de suspeita nas capitais ocidentais, já que a Rússia é um dos poucos países do mundo que mantém relações com o regime secreto de Kim Jong-Un.

Nos últimos dias, o líder norte-coreano tem assumido posições que mostram uma mudança da estratégia geopolítica do país.

Uma das alterações foi na Constituição do país que, esta semana, passou a definir a Coreia do Sul como “um Estado hostil”.

Além disso, Kim Jong-Un decidiu fazer explodir as ligações rodoviárias e ferroviárias que ligavam os dois países, demonstrando que abandonou o antigo desejo de reunião das duas Coreias e que a sua intenção atual é fazer escalar as tensões.

Numa visita feita na quinta-feira a um quartel-general do exército local, o líder norte-coreano lembrou as suas tropas que devem tratar a Coreia do Sul como um inimigo estrangeiro hostil e insistiu que o Norte não hesitará em atacar o seu rival se o Sul infringir a sua soberania.

Estas mudanças foram feitas na sequência de acusações de Pyongyang de que Seul teria infiltrado, este mês, vários ‘drones’ no país para lançar panfletos de propaganda anti-Coreia do Norte.

A Coreia do Sul recusou confirmar se enviou ‘drones’, mas alertou que a Coreia do Norte enfrentará uma resposta esmagadora que “acabará com o seu regime” se a segurança dos cidadãos sul-coreanos for ameaçada.

Os analistas políticos veem riscos crescentes de possíveis confrontos ao longo das tensas zonas fronteiriças dos rivais, embora considerem altamente improvável que o Norte contemple ataques em grande escala face à superioridade numérica e tecnológica das forças da Coreia do Sul e do aliado Estados Unidos.

As tensões na península coreana têm aumentado desde 2022, quando Kim utilizou a guerra da Rússia contra a Ucrânia como uma janela para intensificar as suas atividades e ameaças de testes de armas.

Washington, Seul e Tóquio reforçaram os seus exercícios militares combinados em resposta e tomaram medidas para aperfeiçoar as suas estratégias de dissuasão nuclear construídas em torno de ativos estratégicos dos Estados Unidos.

O Presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, disse, no início deste mês, ser provável que a Coreia do Norte tente aumentar a pressão com grandes provocações em torno das eleições presidenciais dos Estados Unidos, marcadas para novembro, possivelmente incluindo um teste de mísseis de longo alcance ou uma detonação de teste nuclear.

NATO não confirma militares norte-coreanos a caminho da Rússia

"Neste momento não podemos confirmar as informações de que há militares da Coreia do Norte a combater ativamente na Rússia ou a caminho", disse Mark Rutte, em conferência de imprensa no quartel-general da Aliança Atlântica, em Bruxelas, ao final da manhã de hoje.

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) foi questionado sobre as informações disponibilizadas pela Coreia do Sul sobre alegados militares norte-coreanos, incluindo das forças especiais, que estariam a caminho da Rússia para integrar os batalhões que estão nos territórios ucranianos ocupados.

Mark Rutte disse que estava em contacto com Seul para confirmar essas alegações e que a NATO faria uma avaliação própria se se confirmassem as informações.

O antigo primeiro-ministro dos Países Baixos advertiu, no entanto, que mesmo que a Coreia do Norte "não esteja fisicamente lá [na Ucrânia ou na Rússia], está a alimentar a guerra de agressão de todas as maneiras possíveis".

No final da reunião ministerial de dois dias, que contou com a presença do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no Conselho NATO-Ucrânia, e a participação dos países parceiros da região do Indo-Pacífico (Coreia do Sul, Japão, Austrália, Nova Zelândia), Mark Rutte disse que os 32 países da NATO estão a investir mais, por exemplo, em 1.000 mísseis MIM-104 Patriot e também em aeronaves de combate.

O Presidente da Ucrânia também apresentou aos ministros da Defesa dos 32 Estados-membros da NATO o seu plano para a vitória. Em cinco pontos, Zelensky delineou uma estratégia que assenta num convite incondicional para aderir à NATO.

A promessa já tinha sido feita no passado, mas a NATO colocou várias condições a um convite, nomeadamente, o fim do conflito iniciado pela Rússia há mais de dois anos.

Mas Zelensky pediu um convite sem condições como forma de dissuadir a Rússia e pressionar Moscovo para um cessar-fogo e negociações de paz posteriores.

(Notícia atualizada às 12h39)