A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) começa, no comunicado hoje divulgado, por retomar posições já conhecidas, críticas da eliminação dos exames do 1.º ciclo (4.º ano de escolaridade) e 2.º ciclo (6.º ano de escolaridade) “que constituíam um instrumento fundamental de monitorização da qualidade do sistema de ensino nacional” e por afirmar que está “em construção, na comunidade educativa, um amplo consenso quanto à ineficácia das provas de aferição do 2.º e do 5.º ano”.
A SPM apela para o retomar dos exames, afirmando que com a sua eliminação “deixou de existir nestes últimos quatro anos um qualquer indicador nacional que afira a qualidade da aprendizagem efetuada pelos alunos no final destes ciclos”.
“Esta falta de monitorização do nosso sistema é especialmente gravosa numa altura em que a implementação do projeto de autonomia e flexibilidade curricular dá liberdade às escolas, professores e alunos de “construírem o seu próprio currículo” com grande autonomia e sem qualquer avaliação externa que meça a respetiva qualidade e eficácia, ou que identifique as assimetrias regionais e sociais que inevitavelmente não deixarão de ocorrer”, lê-se no comunicado da SPM.
Sobre a prova de hoje, ainda que “não contendo erros científicos, apresenta um grau de complexidade que fica aquém daquilo que seria esperado para alunos do final do 5.º ano”, na avaliação da SPM, que deixa ainda críticas à avaliação repetida de um mesmo conteúdo em diversas situações, deixando de fora “conteúdos importantes”.
“Trata-se de facto de uma prova pobre em termos de conteúdos matemáticos”, avalia a SPM.
A título de exemplo, a SPM refere que um dos itens da prova de hoje era “muito semelhante” ao da prova de aferição do 2.º ano em 2018.
“Este curioso facto levanta uma séria questão sobre a adequação dessa prova de 1.º ciclo então realizada, e cujos (maus) resultados levaram o Ministério da Educação a traçar um quadro negro do estado do ensino da Matemática, contrário a todos os indicadores nacionais e internacionais disponíveis à data. A SPM reitera que apenas provas comparáveis de ano para ano e adequadas em termos de complexidade e de dificuldade permitem tirar conclusões corretas e fiáveis”, lê-se no comunicado.
A sociedade científica critica ainda a avaliação conjunta das disciplinas de Matemática e Ciências Naturais, classificando-a como uma “tentativa artificial de interdisciplinaridade, não havendo nenhum item que de facto avalie conjuntamente conhecimentos e capacidades destas duas áreas em simultâneo”, e defende que a interdisciplinaridade requer uma “consolidação adequada” das matérias em causa que ainda não é possível obter no 2.º ciclo.
“Por esta razão, toda a prova se torna palavrosa, desenvolvendo-se em torno de um enredo desinteressante e confuso. Os enunciados contêm demasiada informação supérflua, suscetível de distrair os alunos e de perturbar a avaliação dos conhecimentos e capacidades matemáticas importantes que realmente importam medir”, sustenta a SPM.
Para a sociedade de Matemática a prova era composta por alguns itens que criavam dificuldades adicionais aos alunos por questões de interpretação resultantes de parte do enunciado que “é um mau exemplo de redação de um texto em português”.
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