“A minha posição é que os pedopsiquiatras [que acompanham crianças dos zero aos 18 anos] não podem resolver todos os problemas”, disse Daniel Sampaio que falava à agência Lusa a propósito do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, que se assinala no domingo, e da campanha “Viva! Para lá da depressão”.

A campanha visa promover a saúde mental e quebrar o estigma associado à doença mental, em particular a depressão, de uma forma positiva e diferenciadora, promovendo a literacia dos portugueses sobre o tema.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que todos os anos cerca de 700.000 pessoas tiram a própria vida, o que equivale, aproximadamente, a uma morte a cada 40 segundos, sendo o suicídio a quarta principal causa de morte entre jovens dos 15 aos 29 anos em todo mundo.

Para combater este flagelo, Daniel Sampaio defendeu que é preciso combater a lista de espera em psiquiatria que, neste momento, “é muito grande”, e, sobretudo, as listas de espera para uma consulta de pedopsiquiatria que são de “muitos meses”.

No seu entender, “os psiquiatras de adultos têm que começar a assistir adolescentes até aos 18 anos, entre os 15 e os 18 anos, por exemplo, para se poder ter mais resposta para os problemas de saúde mental dos jovens”.

Apesar de o suicídio ser mais frequente nas pessoas mais velhas, Daniel Sampaio afirmou que se deve considerar sempre o suicídio nos jovens, alertando que é preciso estar atento aos comportamentos auto-lesivos.

Como ajudar alguém em risco?

A comunidade pode ter um papel relevante na prevenção do suicídio. É importante ter a consciência de que a maior parte das pessoas que se suicidaram avisaram antes e que, portanto, nunca deveremos menorizar um aviso de suicídio.

Todas as pessoas que tenham ideias de suicídio devem procurar apoio imediato e a família deve lutar por esse apoio. Recorde-se a necessidade de tratar a depressão, que é uma doença e não um estado de espírito — e é tratável. Existe uma urgência de psiquiatria com atendimento imediato em muitos locais e que em todos os distritos há um serviço de psiquiatria com consultas.

Caso tenha pensamentos suicidas ou conheça alguém que revela sinais de alarme, fale com o médico assistente. Se sentir que os impulsos estão fora de controlo, ligue 112.

Outros contactos:

SOS Voz Amiga
Lisboa (atendimento das 16 às 24h)

21 354 45 45
91 280 26 69
96 352 46 60

SOS Telefone Amigo
Coimbra
239 72 10 10

SOS Estudante
Coimbra
808 200 204

Escutar - Voz de Apoio
Gaia
22 550 60 70

Telefone da Amizade
Porto
22 832 35 35

A Nossa Âncora
Sintra
219 105 750
219 105 755

Departamento de Psiquiatria de Braga
Braga
253 676 055

Brochura do INEM
Ler aqui.

“Se bem que haja muitos jovens que se cortam e poucos que se suicidam, em relação ao número de jovens que se cortam, é importante alertar que os cortes são um sinal de alarme, são muito frequentes”, disse, advertindo que é preciso perceber o que se passa e encaminhá-los para uma consulta se for caso disso.

Segundo o especialista, cerca de 20% dos jovens têm problemas de saúde mental, a maior parte são situações de ansiedade e depressão que, nesta população, tem “características diferentes” da doença nos adultos.

“Falam menos de tristeza, falam menos de cansaço, falam menos de insónia e falam menos de perturbações do apetite, que são características da depressão adulta”, disse, sublinhando que a doença nos jovens se manifesta por falta de concentração, com quebra normalmente nos resultados escolares, e por impulsividade, podendo ter comportamentos às vezes de violência ou comportamentos de agressividade em relação aos outros.

Segundo o especialista, estes comportamentos podem ser "um sinal de alarme" de uma depressão juvenil.

Daniel Sampaio observou que os jovens que sofrem de depressão e ansiedade estão sozinhos e refugiam-se na Internet, muitas vezes, a ver vídeos muitas vezes ligados à depressão e aos comportamentos auto-lesivos.

“Os pais e os professores têm um papel muito importante que é alertar para este isolamento e, sobretudo, ouvi-los porque muitas vezes esses jovens não falam com ninguém e nós temos às vezes a ideia que eles não querem falar. Isso não é verdade, não sabem é como hão de falar e têm muito receio de não serem compreendidos, nem ouvidos”, referiu.

“E, portanto, a nossa posição deve ser de aproximarmo-nos e dizer: Eu estou aqui ao pé de ti, podes falar comigo quando quiseres, porque depois quando encetam essa conversação têm muitas coisas para dizer”, sustentou.

Em caso de necessidade, as pessoas podem contactar o 112, o Serviço de Aconselhamento Psicológico do SNS 24 (808 24 24 24), a Linha SOS Voz Amiga (213 544 545; 912 802 669; 963 524 660), Telefone da Amizade (222 080 707), Conversa Amiga (808 237 327, 210 027 159), Voz de Apoio (225 506 070) e Vozes Amigas de Esperança de Portugal (222 030 707).