Numa entrevista no domingo no programa televisivo Meet the Press, da NBC, Trump recusou-se repetidamente a dizer se apoiaria uma proibição federal do aborto.

O ex-presidente limitou-se a dizer que poderia conviver com a situação em que o aborto é proibido em alguns estados, bem como com uma situação em que o aborto fosse proibido por uma lei federal, e defendeu mesmo que “do ponto de vista legal” seria melhor uma proibição apenas a nível de cada estado.

Em relação ao projeto de lei assinado pelo governador da Florida Ron DeSantis — que é seu adversário nas eleições primárias do Partido Republicano, na escolha do candidato às eleições presidenciais de 2024 -, que proíbe o aborto antes de as mulheres saberem que estão grávidas, Trump deixou uma crítica dura.

“Acho que o que ele fez foi uma coisa terrível e um erro terrível”, disse Trump, na entrevista.

Até agora, o ex-presidente tem criticado os grupos anti-aborto que tradicionalmente têm enorme influência nas primárias Republicanas, mas continua à frente nas sondagens para essa escolha.

Contudo, o ataque direto de Trump a DeSantis poderá dar ao governador da Florida novos argumentos para tentar recuperar a diferença que o separa de Trump na tentativa de obter a nomeação Republicana.

Poucas horas depois da entrevista televisiva, a maior organização antiaborto dos EUA – que apoia a proibição nacional do aborto às 15 semanas de gravidez – divulgou um comunicado dizendo que qualquer posicionamento menos restritivo “não faz sentido”.

“Estamos num momento em que precisamos de um defensor dos direitos humanos, alguém que se dedique a salvar a vida das crianças e a servir as mães necessitadas. Cada candidato deve deixar claro como tenciona fazer isso”, disse Marjorie Dannenfelser, líder da Susan B. Anthony Pro-Life America.

Uma recente decisão do Supremo Tribunal dos EUA deixou a decisão sobre se e como restringir o aborto para cada um dos governos estaduais, criando uma manta de retalhos de leis em todo o país, com a maioria dos estados liderados pelos Republicanos a impor novas restrições e com os estados liderados pelos Democratas a aprovar legislação que protege o direito ao aborto.

Trump abordou o tema a partir de uma posição política, dizendo que a decisão do Supremo Tribunal deu aos conservadores espaço para negociar novas restrições e argumentando que a pressão dos Republicanos por mais restrições à interrupção voluntária da gravidez prejudicou a posição do partido.

Uma sondagem revelou que 73% de todos os adultos dos EUA acreditam que o aborto deve ser permitido até às seis semanas de gravidez, que é quando a atividade cardíaca no feto pode ser detetada e antes de as mulheres saberem que estão grávidas.

Cerca de metade dos norte-americanos dizem que o aborto deve ser permitido até 15 semanas.

Mas, entre os Republicanos, 56% dos inquiridos disseram que o aborto deve ser permitido no seu estado por até seis semanas e apenas 29% apoiam a legalização do procedimento por até 15 semanas.