“Acho que já estivemos mais longe de um acordo entre a União Europeia e o Mercosul. Talvez seja mesmo o momento que estamos mais perto”, considerou Paulo Portas, que intervinha na quinta-feira à noite em Lisboa numa conferência a propósito do lançamento do próximo número da revista “Democracia e Liberdade”, do Instituto Adelino Amaro da Costa.

Na intervenção, sobre os desafios da Lusofonia e em que recordou o trabalho que desenvolveu a esse respeito enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas destacou a importância de um acordo entre os dois blocos face à antecipação que é possível fazer da política externa da administração norte-americana, que a partir de 20 de janeiro do próximo ano será liderada por Donald Trump.

“Imaginemos que os Estados Unidos vão dar força a uma política sistémica protecionista. Eu acho que o modelo europeu é exatamente diferente. É procurar fazer comércio com mais gente, trazer mais prosperidade porque compramos e vendemos, porque temos maior mercado para as nossas empresas e no final as nossas relações com o resto do mundo melhoram sem que as relações com os Estados Unidos sejam prejudicadas”, detalhou.

Todavia, Paulo Portas reconheceu que persistem dificuldades que podem impedir alcançar uma “conjunção de estrelas no céu” e que é conseguir que de um lado, Brasil e Argentina, e do outro, França e Irlanda, estejam disponíveis para um acordo de comércio.

“Porque ou falha de um lado, ou falha do outro. Agora está perto de não falhar. Vamos ver. Isso tem um significado para a América Latina”, reiterou.

Uma vez alcançado, esse acordo pode representar “uma curiosa advertência para a China”, afirmou.

“Quer dizer que a Europa quer disputar à China o seu lugar no comércio com os Estados latino-americanos. Uns podem dar-se ao luxo de dispensar o comércio nas relações bilaterais. A Europa não deve dar-se a esse luxo. A China é hoje uma potência na América Latina. Se Brasil e a Argentina fizerem um acordo com a Europa, isso valoriza muito a Europa na vida desses dois países”, vincou.

Paulo Portas abordou depois o que classificou como “declínio nos últimos quatro anos”, desde a pandemia de covid-19, do investimento chinês em África.

“Tem a ver com um fator interno: as dificuldades que a economia chinesa tem sentido. E um fator externo: que é alguns problemas no relacionamento com a China dos países que têm excesso de endividamento à China” e a diminuição desse investimento “é uma oportunidade para muitos países, começando por brasileiros e portugueses que conhecem muito bem África”, frisou.