Esta é a primeira vez que a UBI atribui um Honoris Causa a uma figura ligada às artes plásticas, como a instituição sublinhou em junho, no anúncio da decisão.
“Este Doutoramento Honoris Causa representa o reconhecimento da UBI a uma personalidade da Beira Baixa, natural de Vila Velha de Ródão (distrito de Castelo Branco), que alcançou projeção internacional pelo talento demonstrado como ceramista e pintor”, sustentou então a universidade.
A cerimónia de homenagem surge “na sequência de uma proposta conjunta da reitoria e da Faculdade de Artes e Letras, com o apoio do presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco”.
Manuel Alves Cargaleiro nasceu em Chão das Servas, Vila Velha de Ródão, distrito de Castelo Branco, a 16 de março de 1927, e passou a infância numa olaria no Monte da Caparica, para onde os pais se mudaram quando tinha apenas dois anos.
Estudou durante Ciências Geográficas e Naturais, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e só depois ingressou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, em 1949. As suas primeiras pinturas abstratas, intituladas "Microscopic Compositions", surgiram da observação dos tecidos vegetais que o microscópio reproduzia.
Em 1952, realizou a primeira exposição individual, no Secretariado Nacional de Informação, em Lisboa, e, dois anos depois, quando era professor de cerâmica na Escola Secundária António Arroio, em Lisboa, surgiu a oportunidade de expor na Galeria de Março, que funcionou na capital entre 1952 e 1954.
No mesmo ano, apresentou as primeiras pinturas a óleo no Primeiro Salão de Arte Abstrata, viajou pela primeira vez para Paris, e ganhou o Prémio Nacional de Cerâmica.
A sua obra é fortemente inspirada no azulejo tradicional português, e também influenciada pelo pintor e ceramista Lino António, a que juntou o racionalismo e a sobriedade da arte francesa.
Em 1955, foi agraciado com o diploma de honra da Academia Internacional de Cerâmica, no Festival Internacional de Cerâmica de Cannes, em França.
Entretanto, fixou residência definitiva em Paris, onde vive.
Até ao final da década de 1970, realizou exposições individuais, em diferentes pontos do globo, designadamente em Lisboa, Paris, Tóquio, Milão, Lausanne, assim como no Brasil, e também participou em mostras coletivas, em Almada, Genebra, Rio de Janeiro, Osaka e Seul.
Nos anos de 1980, começou a explorar a tapeçaria, tendo sido convidado pelo Governo português a desenhar um exemplar para o novo edifício da Organização Internacional do Trabalho, em Genebra.
A partir da década de 1990, predominam na sua obra os padrões aglomerados e cromaticamente intensos, sempre evocando o azulejo português, como acontece na estação do Colégio Militar, do Metro de Lisboa, inaugurada em 1988.
Em 1990, foi criada a Fundação Manuel Cargaleiro, em Castelo Branco.
Em 2017, no exato dia do seu 90.º aniversário, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou Manuel Cargaleiro com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique, classificando-o de "artista completo".
Em novembro de 2019, recebeu, em Paris, a medalha de Mérito Cultural do Governo português e a Medalha Grand Vermeil, a mais alta condecoração da capital francesa.
Na altura, foi também inaugurada a ampliação da estação de metro de Champs Elysées-Clémenceau, com novas obras de Manuel Cargaleiro, depois de originalmente concebida e totalmente decorada pelo artista português, em 1995, incluindo o painel em azulejo "Paris-Lisbonne".
Em fevereiro de 2020, a Câmara de Castelo Branco atribuiu-lhe a medalha de ouro da cidade.
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