A manifestação do Chega, convocada para as 15:30 como um cerco à sede nacional do PS, no Largo do Rato, em Lisboa, juntou hoje algumas centenas de pessoas, mas o ambiente só animou com a chegada de André Ventura, perto das 16:00, com a iniciativa terminar pouco depois das 17:00.

Em declarações aos jornalistas, logo à chegada, o líder do Chega começou por responder às críticas de alguns dirigentes socialistas, que consideraram o protesto antidemocrático.

“Hoje ouvi que era uma ação inqualificável e antidemocrática que o Chega estivesse a fazer um cerco à sede do PS. É uma ação diferenciada, precisamente porque o PS tem cercado a democracia e sequestrado as nossas instituições”, acusou, apontando como exemplos o decurso da comissão de inquérito à TAP, o “uso abusivo de instituições” como os serviços de informações e, em particular, o setor da justiça.

Ventura voltou a criticar o Governo por ter demorado ano e meio a regular a portaria sobre a distribuição eletrónica de processos e a relacionar este facto com o atraso no julgamento do ex-primeiro-ministro José Sócrates.

Questionado se o PS deveria interferir na justiça, de forma a ‘acelerar’ a operação Marquês, Ventura respondeu: “Não, acho que o PS devia permitir que o seu Governo fizesse justiça, regulamentando o que tinha de regulamentar.

O presidente do Chega acusou ainda o juiz Ivo Rosa de ter “mantido o processo Marquês na gaveta durante anos” e, por isso, ter sido indicado para um cargo europeu.

“É por isso que o Chega está hoje aqui, não para provocar nenhum confronto. Viemos dizer que o PS não manda na nossa democracia”, disse, lamentando que os restantes partidos de direita não se juntem a este tipo de ações.

No protesto, foram exibidos dois bonecos insufláveis, um com uma máscara de António Costa e outro de José Sócrates, que mais tarde foram colocados dentro de uma jaula.

Questionado se entende que o primeiro-ministro deveria estar preso e por que crime, Ventura disse que “a ideia era os dois bonecos estarem fora” da jaula, mas a polícia não terá permitido a sua localização, à frente dos manifestantes.

“Os dois bonecos estavam juntos para mostrar que António Costa é hoje o melhor amigo de José Sócrates”, afirmou.

Durante parte do tempo em que a comunicação social questionava Ventura — um momento organizado pela assessoria do partido -, eram vários os militantes que criticavam o teor das perguntas e os próprios jornalistas que as colocavam.

Apesar da insistência do ‘speaker’ para que fosse feito um cordão humano à volta da sede do PS, o efeito acabou por ser apenas de um semicírculo próximo das baias da polícia, que encerrou a rua em frente ao Largo do Rato e criou um perímetro de segurança entre os manifestantes e a sede do PS, apenas permitindo que as pessoas se colocassem junto ao muro em frente e de lado.

Aos jornalistas, Ventura disse que “até estava mais gente do que esperava” na “concentração simbólica” e recusou ligar a marcação desta iniciativa ao cancelamento de uma outra do Chega, que pretendia juntar em Lisboa líderes internacionais de extrema-direita, como Jair Bolsonaro, envolvido numa investigação judicial no Brasil.

O líder do Chega recusou também quaisquer comparações entre este ‘cerco’ à sede do PS e outros cercos do tempo do PREC, salientando que hoje “ninguém está impedido de entrar ou sair”.

“Estamos aqui para transmitir uma mensagem política e articulámos a iniciativa com a PSP e a Câmara Municipal de Lisboa”, reiterou, dizendo que o Chega “cumpre as regras”.

O líder do Chega falou depois cerca de 20 minutos num palanque instalado no local, e de cravo preto na mão, adereço partilhado por alguns dos presentes, repetiu a maioria das ideias transmitidas à comunicação social, embora em tom de comício.

“Nunca o lugar de uma manifestação foi tão bem escolhido, nem o nome tão bem dado para a sede do PS: largo dos ratos, porque destroem a nossa democracia”, atacou, sugerindo que a sede do PS poderia ser transformada num museu.