A visita de Ho Iat Seng “é muito importante e muito construtiva" das relações sino-portuguesas, afirmou Choi Man Hin, o homem que durante décadas foi o braço direito em Portugal do empresário luso-chinês e magnata do jogo Stanley Ho e hoje é presidente da Associação dos Comerciantes e Industriais Luso-Chineses (ACILC) em Portugal.
Porque "este tipo de intercâmbio nas relações bilaterais faz falta” e “é muito útil” para “o relacionamento entre as duas zonas e para os dois países, China e Portugal", acrescentou a propósito da visita do chefe do executivo macaense, que começa no dia 18.
“Portugal é uma plataforma para extensão de investimento daqui para outros países e até para a África", realçou o antigo presidente do Conselho de Administração da Estoril Sol - empresa controlada na altura por Stanaley Ho, que continua até hoje a ser a proprietária do casino de Lisboa e gestora, entre outros, do Casino do Estoril.
No seu entender, a visita do chefe do executivo macaense a Portugal "pode ser catalisadora" para que governantes portugueses também "voltem a visitar Macau".
Adiantou ainda que o setor das residências assistidas para idosos deve ser uma das novas apostas do investimento chinês em Portugal. Lembrou que Portugal "tem calma, paz" e que isso pode ser aproveitado para atrair reformados. "Isto é positivo para os imigrantes e para o investimento" chinês, reforçou.
Outro setor em que vê a comunidade chinesa a continuar a investir no futuro, tal como já acontece hoje, é "no negócio do imobiliário, comprando prédios antigos para renovar e vender depois". É um negócio "imobiliário diferente", até para compensar o fim dos vistos gold, e que deixa uma mais-valia para Portugal, defendeu Choi Hin, salientando que Portugal já "tem muitas empresas [chinesas] neste setor" a trabalhar.
Para o antigo responsável da Estoril Sol, a vida da comunidade chinesa em Portugal hoje é "melhor do que antes" e está mais integrada na sociedade portuguesa.
"Em especial as segundas e terceiras gerações já acabaram os seus estudos, desde o secundário até à universidade, em Portugal", indicou. Além disso, já há muitos advogados e pessoas da comunidade ligadas aos governos das Câmaras, porque também se ligaram a partidos, acrescentou.
Por estes e outros motivos, o presidente da ACILC acredita que a comunidade chinesa em Portugal, que hoje já é a 10.ª no ranking das maiores no país, vai continuar a crescer.
"Eu acredito no destino", afirmou, e muitas vezes o local que se escolhe para viver, na opinião do antigo gestor da Estoril Sol, tem a ver com o futuro da família, dos filhos, alguns que querem estudar na Europa.
Além disso, lembrou Choi Hin, o chinês "não é só trabalhador, ele tem uma coisa muito inteligente, cabeça para fazer negócio".
O obstáculo, para a comunidade chinesa em Portugal é a língua, mas "toda a gente tenta aprender português para melhorar a sua maneira de viver aqui e de se integrar na sociedade", com negócios privados.
"Eu penso que o Governo central [chinês] também promove este tipo de tendência para as empresas [controlados pelo Estado] saírem do país para procurarem oportunidades de negócio fora. Muitas delas anteriormente eram do Estado, mas agora algumas também já têm muitos particulares"
E como "Portugal não é fácil para um negócio normal”, a associação a que Choi preside e outras entidades vão juntar num hotel de Lisboa, pessoas com interesses comuns, para fazerem residências seniores, ou escolas internacionais, por exemplo, para que haja novas oportunidades de negócios, durante a visita do chefe do executivo de Macau a Portugal na próxima semana.
Além disso, a Associação do Comerciantes e Industriais Luso-Chineses vai assinar um memorando com a Câmara de Macau para permitir colaboração entre as duas entidades.
A associação a que Choi Hin preside tem 200 associados, todos empresários.
Choi realçou ainda que a visita do chefe do executivo de Macau ocorre depois do 10.º congresso do Partido Comunista Chinês, o mais importante evento da agenda política da China.
Desse encontro, “o chefe do executivo de Macau também recebeu indicações de contar a história da China de uma maneira mais certa", mostrando que Pequim pode continuar a colaborar com outros países do mundo, adiantou.
No seu entender, Portugal pode ser um aliado da China na Europa e África.
“Por exemplo, se tiver qualquer situação económica que precisa de apoio do lado Macau, [o território] está preparado para ajudar [Portugal] para o seu bem”, exemplificou.
Choi não excluiu a possibilidade de “alguns ajustes”, ao longo do período da transição da administração do território de Macau para a China, definido no tratado entre Pequim e Lisboa, mas isso não será assunto desta visita.
O chefe do executivo de Macau visita Portugal entre 18 e 22 de abril, estando previstos encontros com o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.
A acompanhar Ho Iat Seng está uma comitiva de 50 empresários locais, com várias visitas a parceiros portugueses, com foco nos setores alimentar e farmacêutico.
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