“Votar para quê? Não vou votar porque são todos uma vergonha, só pensam neles. A Marine Le Pen de qualquer maneira não vai ganhar, por isso, não vou votar. Não posso votar pelo Macron porque é o candidato dos ricos e eu não sou rico”, disse à Lusa Rémy Durand, enquanto encaixotava o resto da charcutaria que não vendeu na feira.
Para o francês, “a França é como uma empresa prestes a falir e nem Deus teria um programa para remediar as coisas”.
Questionada sobre se vai votar, Nuriel Sebaoun também lançou para o ar a questão “votar para quê?”.
A feirante, que vive nos arredores de Paris, afirmou ter deixado de votar após a eleição de Nicolas Sarkozy e assume, com um sorriso de orgulho, ser a única na família que não vai votar.
“Qual é a escolha? Entre um que defende a reforma do código do trabalho e outra que é fascista? Para isso, prefiro não votar. A Frente Nacional não vai ganhar e, mesmo que ganhasse, não me sentiria responsável porque eles também enchem os bolsos com dinheiro dos trabalhadores e o Macron votou a lei do trabalho que nos prejudica”, afirmou a francesa de 50 anos.
Atrás do balcão de vidro e entre pedidos de queijo e de presunto, Mathieu Goillot afirma, alto e forte, que não vota porque “nenhum dos candidatos” o convence.
“Olhe, a política já não me interessa. Estou dececionado e revoltado com os políticos aqui. É um escândalo quando se vê os salários que ganham e quando vejo alguns dizerem, como o Jean-François Copé, que o pão com chocolate custa 15 cêntimos”, exclamou o feirante de 35 anos.
A fazer as compras no seu bairro depois de ter ido às urnas de manhã, a lusodescendente Cristina Branco, que na primeira volta votou em Jean-Luc Mélenchon, do movimento A França Insubmissa, disse à Lusa que “a abstenção poderia ser arriscada porque pode eventualmente dar votos à Marine Le Pen”.
“Acho que a abstenção é por capricho e irresponsabilidade, porque esta geração que se abstém hoje nunca conheceu a ditadura e eu, como sou de origem portuguesa, os meus pais conheceram a ditadura. Penso que a Frente Nacional à frente dos destinos de França pode impor-nos uma ditadura”, considerou a fotógrafa de 45 anos.
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